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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Púlpito não é altar


Por Mario Correa


Tudo o que estamos vendo agora - todo esse absurdo no meio evangélico -, não começou agora. Esses desvios vêm ocorrendo há muito tempo, inclusive quando se convencionou chamar o púlpito - que é um palanque - de altar.

Segundo o Dicionário Michaelis, púlpito significa "Tribuna, na igreja, da qual o sacerdote prega aos fiéis". A Wikipédia traz uma descrição mais apropriada: "O púlpito é o local dentro de uma igreja onde são proferidas as leituras da Sagrada escritura... Nas igrejas católicas mais modernas e em praticamente todas as protestantes [evangélicas], o púlpito é composto de um pequeno pódio [pedestal] com um atril [estante inclinada] onde geralmente a Bíblia se encontra e de onde os leitores e pregadores costumam se dirigir à congregação. Etimologicamente: "pulpeto". Do lat. "pulpitum". Também: Tribuna, estrado. Local elevado de onde fala um orador, geralmente dentro de um templo religioso”. [Colchetes explicativos meus].

Púlpito, portanto, é apenas um lugar em posição elevada ou rebaixada para que o orador possa ser visto por todos. O púlpito é uma tribuna, lugar que encontramos em vários auditórios como as câmaras legislativas e as universidades, por exemplo. Nas igrejas possui a mesma finalidade, que é permitir que o pregador/palestrante possa ser visto por todos.





Ainda segundo o Michaelis, altar significa “1 Espécie de mesa destinada aos sacrifícios e outras cerimônias religiosas, em qualquer religião. 2 Pedra retangular, mais ou menos do formato de uma mesa, com cinco cruzes gravadas, uma em cada canto e a última no centro, sobre a tampa de um pequeno sepulcro escavado, contendo relíquias, sobre as quais se celebra o sacrifício da missa. 3 Lugar elevado para oferecer sacrifícios aos deuses ou heróis. 4 Maçon Mesa, ordinariamente triangular, em que tomam assento o venerável e outros dignitários”. A Wikipédia descreve o significado de altar assim: “Altar, do latim altare ou ara (lat. class.), plataforma semelhante a uma mesa constituída por uma rocha, elevação ou outra estrutura que possibilite ao sacerdote líder ou mentor espiritual, sacrificar à divindade, ou divindades, em um templo religioso ou local sagrado. No culto católico, por exemplo, é a mesa onde se celebra a missa. No protestantismo é a mesa de onde os pastores consagram e administram a Santa Ceia nos cultos. Para o catolicismo, o altar disposto nas igrejas e capelas é objeto consagrado e representa a Rocha sobre a qual Jesus Cristo o Cordeiro de Deus (termo que associa o sacrifício deste aos antigos sacrifícios de animais praticados pelos povos cujas religiões e cultos precederam a liturgia cristã) foi imolado e sacrificado na cruz pela redenção da humanidade. Sacrifícios de animais ainda são praticados em rituais em diversas regiões do planeta, geralmente associados a oferendas a divindades. Numa igreja católica, o altar-mor é o altar principal, geralmente mais adornado, disposto em frente à entrada principal”.


Altar, na Bíblia, no antigo testamento e na antiga aliança, era o lugar onde se oferecia sacrifícios de animais e incenso (veja Gn. 8:20; 12:7). A prática de oferecer sacrifícios e ofertas num altar já existia antes, sendo posteriormente instituída de forma ordenada na lei mosaica (vide Ex. 20:24-26; 29:12-46; 30:1-10; 40:26-29; Lv. 1-7). Haviam cinco tipos de sacrifícios e ofertas feitos pelo povo, que estão descritos no livro de Levítico capítulos 1 ao 7: a) Oferta queimada, sendo o animal totalmente queimado no altar, em demonstração de consagração; b) Oferta de manjares, i.e, de cereais, por gratidão; c) Oferta pacífica, voluntária, de ação de graças e votos; d) Oferta pelo pecado, para tirar pecados; e) Oferta pela culpa, oferecida como prova de que o culpado havia restituído à vítima o de direito. É interessante observar que não existia sacrifício em busca de recompensa material, sendo o mais próximo disso as ofertas oferecidas com voto, sendo que o votante é que se comprometia a cumprir alguma coisa - o voto - quando recebesse a benção pedida. O principal sacrifício, obviamente, era a oferta pelo pecado em busca do perdão, prefigurando o sacrifício de Jesus na cruz.

O altar para os sacrifícios, assim como o sacerdócio levítico que era parte do cerimonialismo judaico pertencente à Antiga Aliança e à Lei (Antigo Testamento), firmada por Deus com o povo israelita através de Moisés, se encerrou na cruz do calvário onde Jesus estabeleceu a NOVA ALIANÇA no seu sangue (Mc. 14:24), oferecendo-se a si mesmo num sacrifício único, perfeito e eficaz, tendo efetuado ETERNA REDENÇÃO (Hb. 9). Por isso lemos na Carta aos Efésios: “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz... Na sua carne desfez a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças...” (Ef. 2:13-16).

Ora, se o sacrifício de Jesus é único, claro está que não há necessidade de outros. Se é perfeito, claro está que não há necessidade de correção. Se é eficaz, claro está que é suficientemente eficiente. Se efetuou eterna redenção, claro está que sendo atemporal não necessita de coisas temporais, sendo plenamente eficiente no passado, no presente e no futuro. Portanto o sacrifício de Jesus continua sendo único, perfeito e eficaz, tendo sido oferecido na cruz, com sangue que nos purifica de todo pecado.

Diante destas considerações podemos concluir que o púlpito não é um altar, porque todo altar requer um sacerdote, e a existência de sacerdote leva à necessidade de sacrifício, porque a função do sacerdote é mediar e oferecer sacrifícios. É o que encontramos na primeira Carta aos Coríntios: “Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar? (1Co. 10:18). Contudo, no tocante a Nova Aliança, encontramos na Carta aos Hebreus: “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo" (Hb. 13:10). Ora, a principal diferença da antiga aliança para a nova aliança é que no evangelho TODO HOMEM É SEU PRÓPRIO SACERDOTE (Ap.1:6 e 5:9,10). O templo é a própria pessoa onde Deus passou a habitar mediante seu Espírito. Como lemos em Atos 7:48 e 17:24, Deus não habita em prédios-templos construídos por homens. Quando alguém apresenta um prédio como sendo a "casa de Deus" já comete um desvio, e daí para o púlpito se tornar o altar e o líder se tornar o sumo sacerdote é um pulo. Ora, o que a Bíblia Sagrada nos ensina é que na nova aliança todo homem é seu próprio sacerdote, tendo Jesus como Sumo Sacerdote, tendo sido Ele mesmo o Cordeiro que tira o pecado do mundo, tendo derramado seu sangue na cruz.

O altar do crente é a cruz onde o Cordeiro foi morto, tendo seu corpo partido e seu sangue derramado em expiação, nos purificando de todo pecado: “E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:19-20). E o que nos é dito, a partir de então, é que cada sacerdote, i.e, cada um tome a sua própria cruz, negue-se a si mesmo e se apresente como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que deve ser o nosso culto racional, nosso modo de vida (Rm.12:1). Ora, o que se pede do discípulo é que seja igual o seu Mestre: Sendo Jesus o Sumo Sacerdote e também o próprio sacrifício, o discípulo-sacerdote deve igualmente apresentar o seu corpo como sacrifício vivo negando-se a si mesmo em obediência às palavras do Mestre, que pela obediência negou-se a si mesmo até a morte na cruz (Fp. 2:8). O apóstolo Paulo declarou aos coríntios: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos”.(1Co. 1:22-23; 2:2). E assim, igualmente hoje, o evangelho da cruz é escândalo para uns e loucura para outros. Mas para nós que somos salvos, é o poder de Deus.

Portanto, meus amados, essa coisa de se chamar púlpito de altar é apenas um dos desvios que, por conseguinte, pode levar quem pensa que está no "altar" a se sentir o próprio elo de ligação entre o povo e Deus. E aí inicia-se uma nova religião onde a palavra “função” (no corpo) perde a letra “f” e é transformada em “unção”, e onde o "sacerdote-pastor-bispo-apóstolo-patriarca" passa a ser o líder a ser seguido, o “ungido do Senhor”, a “cobertura espiritual” que tem a palavra final sobre qualquer coisa, infalível, um evangélico adotando o dogma católico da infalibilidade papal. Não estou dizendo que seja errado existirem igrejas-prédios, conquanto isso seja um facilitador para a reunião da igreja-gente. O erro está em dizer que a igreja institucional (pessoa jurídica por determinação da lei) e denominacional seja a igreja de Cristo. Não é. As pessoas que congregam em tais igrejas podem ou não ser da Igreja do Cordeiro, a noiva, da qual Jesus é o único pastor, o noivo, e que somente Ele sabe quem são os seus. A parábola das dez virgens (Mt.25) e os operadores de sinais, curas e exorcismos de Mateus 7:20-23 são a prova disto: Estavam nas igrejas, mas não eram da Igreja do Senhor.

Outro desvio que temos visto constantemente é o ensino de que o crente deve ter um sacrifício no altar, sacrifício esse em forma de dinheiro, mediante ofertas pré-fixadas em campanhas, carnês de patrocinador, coluna da obra, Gideão da conquista, e por aí vai. As igrejas e líderes que pregam esse tipo de coisa recorrem freqüentemente a “testemunhos” de gente que diz ter alcançado algum tipo de benção (prosperidade, cura, etc) porque tinham “um sacrifício no altar”. Conforme já citado acima, no 5º parágrafo desse texto, não existia nas ordenanças da lei nenhum tipo de sacrifício para que se buscasse o favor de Deus para alcançar prosperidade material, sendo o mais próximo disso o sacrifício com voto, onde o votante – a pessoa que fazia o voto – é que se comprometia a cumprir o que tivesse votado caso recebesse a benção pedida. Um exemplo desse tipo de voto encontramos no livro de Juízes: “E Jefté fez um voto ao SENHOR, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do SENHOR, e o oferecerei em holocausto” (Jz. 11:30-31). O final da história é considerado trágico por alguns, já que quem saiu ao encontro de Jefté quando ele voltou da peleja foi sua filha única, e portanto nela o voto teria que ser cumprido. (Esclarecendo, não penso que a filha de Jefté tenha sido queimada num altar, conforme o voto de seu pai, mas que permaneceu até a sua morte na casa do pai sem se casar, em condição de virgem. O sacrifício de pessoas era terminantemente proibido por Deus). Portanto o ensino dessa prática de que crente tem que ter um “$acrifício no altar” não tem fundamento bíblico, sendo mero ardil com a finalidade de arrancar dinheiro de gente desavisada, que desconhece a Bíblia.

A vida comunitária - vida em comum - é a mensagem do evangelho, e penso não ser errado ter um lugar para se reunir, lugar que convencionamos chamar de igreja. A verdadeira Igreja – que são pessoas, a igreja-gente, pode se reunir na igreja-prédio, numa casa, num clube, na praça, ou na beira de um rio - "onde estiverem 2 ou 3 reunidos ali estarei no meio deles", disse Jesus (Mt.18:20). O erro está em tentar fazer da instituição a Igreja de Cristo, dizendo que quem não estiver arrolado no rol de membros está desviado e perdido. Recentemente foi veiculada numa rádio uma propaganda com a seguinte mensagem: "Dentro da igreja institucional há vida, e fora dela há morte. A igreja (institucional) é a arca". Ora, um grande desvio, que na verdade é uma tremenda duma mentira. Basta observar o comportamento de alguns líderes religiosos para perceber que a igreja deles é puramente um negócio, um meio de se enriquecer, onde Jesus é apenas o garoto propaganda.

Enfim, se Jesus fosse cumprir seu ministério terreno hoje aqui no Brasil, certamente também não seria recebido, assim como não o foi em Israel. Ora, como o filho de um carpinteiro, sem diploma, sem curso superior, sem curso teológico, que dizia que a linda catedral de pedra seria destruída e não ficaria pedra sobre pedra, como esse poderia ser o Salvador, Redentor e Reis dos reis? Até nos milagres Jesus seria considerado fichinha.

Nada mudou, queridos irmãos, não há nada novo debaixo do sol: Uma geração má e adúltera pede sinais, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas.



Fonte: Discernindo a verdade




segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A União com Cristo nas Epístolas de Paulo


Por J.V. Fesko


Uma das passagens mais espantosas da Escritura aparece na abertura da epístola de Paulo aos efésios, onde o apóstolo literalmente começa do início de tudo quando escreve: “E amor [isto é, Deus] nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo” (1:4-5). Conforme Paulo revela todas as bênçãos que os crentes recebem, ele ancora a salvação em Cristo com a repetição de uma frase: “Nele…” Paulo escreve, “Nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados [...] de fazer convergir nele [...] todas as coisas [...], nele [...] fomos também feitos herança,  [...] tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (vv. 7-13, ênfase minha). Paulo repete o refrão “nele,” que nos aponta para a doutrina da união com Cristo. Mas o que exatamente é união com Cristo?

Em sua Teologia Sistemática, Louis Berkhof define a união com Cristo como “aquela união íntima, vital e espiritual entre Cristo e seu povo, em virtude do que ele é a fonte da vida e da força de seu povo; de sua bendição e salvação.” Há diversas passagens ao longo das Escrituras que revelam que os crentes são unidos a Cristo: Nós somos os ramos e Jesus é a vinha (João 15:5); Jesus é a cabeça e nós somos seu corpo (1Co. 6:15-19); Cristo é o fundamento e nós somos as pedras vivas unidas ao fundamento (1Pe. 2:4-5); e o casamento entre o marido e a mulher aponta derradeiramente para a união entre Cristo e os crentes (Ef. 5:25-31). Além dessas imagens bíblicas, a específica frase “em Cristo” ocorre umas vinte e cinco vezes nas epístolas de Paulo. Podemos dizer que a união com Cristo ocasiona todos os benefícios de nossa redenção. A questão 69 do Catecismo Maior de Westminster, por exemplo, pergunta: “Que é a comunhão em graça que os membros da Igreja invisível têm com Cristo?” E então responde: “A comunhão em graça que os membros da igreja invisível têm com Cristo é a participação da virtude da sua mediação, na justificação, adoção, santificação e tudo o que nesta vida manifesta a união com Ele .”

A resposta do Catecismo Maior é facilmente verificada a partir da Escritura. Por exemplo, como vimos acima, somos escolhidos “nele” antes da fundação do mundo (Ef. 1:4). Paulo escreve à igreja em Roma que “não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8:1), que é outra maneira de dizer que aqueles que estão unidos a Cristo são justificados. Qualquer um que está “em Cristo Jesus” é um filho de Deus através da fé (Gl. 3:26). Além disso, se os Cristãos habitam em Cristo, eles dão muito fruto; eles produzirão boas obras (João 15:5). Somente Cristo nos dá nossa salvação, quer seja considerado como um todo ou como diferentes benefícios individuais, como a justificação e a santificação.

Qual é a significância do fato que os crentes são unidos a Cristo? Teólogos reformados têm argumentado historicamente que há diversos aspectos diferentes da nossa união com Cristo. Por exemplo, somos unidos a Cristo em termos de nossa eleição “nele.” Não fomos habitados pelo Espírito Santo neste ponto e unidos a Cristo pela fé porque nem sequer existíamos exceto na mente de Deus. Todavia, somos unidos a Cristo em termos da decisão do Pai de eleger pecadores caídos individuais e redimi-los através de seu Filho. Consequentemente, nesse sentido, somos unidos a Cristo no decreto da eleição.

Há um segundo aspecto da união com Cristo, que alguns chamaram de nossa união representativa ou federal. No ministério terreno de Cristo, tudo o que ele fez, ele fez em nome de sua noiva, a igreja. Quando ele foi batizado no Rio Jordão, que era um batismo de arrependimento, ele não estava confessando pecado pessoal, visto que era um cordeiro sem mácula — ele não tinha pecado (Marcos 1:4; 1 Pedro 1:19). Ao invés disso, como representante do povo, ele estava agindo em nome do povo. Consequentemente, não apenas em seu batismo, mas em seu cumprimento de toda vírgula e til da lei, em seu perfeito sofrimento, sua ressurreição e sua ascensão — tudo o que Cristo fez foi em nome de sua noiva. Os perfeitos sofrimento e guardar a lei de Cristo se tornam nossos através da fé — eles são imputados, ou creditados, a nós. A ressurreição de Cristo é representativa, em que conforme a cabeça é levantada, também o corpo, a igreja, será levantado precisamente da mesma maneira. Agora, como Cristo se assenta em sessão real à destra de seu Pai celestial, nós estamos assentados com Cristo e governamos com ele nos lugares celestiais (Ef. 1:20-21).

Um terceiro aspecto de nossa união com Cristo é o que alguns chamam de união mística ou pessoal. Esta é a habitação pessoal do crente pela fé através da pessoa e da obra do Espírito Santo. Várias passagens falam dessa dimensão de nossa união com Cristo, incluindo Efésios 2, onde o apóstolo Paulo explica que somos membros da casa de Deus, edificada na fundação dos apóstolos e profetas, com Cristo como a pedra angular. Sobre esse grandioso e definitivo templo, Paulo escreve que nós crescemos “para santuário dedicado ao Senhor,” e nele nós estamos “juntamente sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (v. 22).

Durante a cerimônia de casamento, quando um homem e uma mulher ficam diante do ministro, eles são dois indivíduos separados. No fim da cerimônia, contudo, eles são declarados “marido e mulher.” São unidos; e ambos se tornam “uma só carne” (Gn. 2:7; Ef. 5:25-31). A propriedade de cada indivíduo se torna a propriedade de ambos. Mas em nossa união matrimonial com Cristo, a gloriosa troca é muito maior. Nosso pecado e nossa culpa são imputados a Cristo, e sua perfeita guarda da lei e seu sofrimento são imputados a nós — o que é nosso se torna dele, e o que é dele se torna nosso. Por causa da união representativa que compartilhamos com Cristo, o Pai não mais olha para nós como pecaminosos, mas vê apenas a justiça e a santidade de Cristo.

A Questão 60 do Catecismo de Heidelberg pergunta: “Como você é justo diante de Deus?” O catecismo, então, dá uma resposta muito tranquilizante:

Apenas por uma genuína fé em Jesus Cristo; isto é, embora minha consciência me acuse de que pequei gravemente contra todos os mandamentos de Deus e não guardei nenhum deles, e ainda sou inclinado a todo mal, ainda assim Deus, sem qualquer mérito meu, por pura graça, concede e imputa a mim as perfeitas satisfação, justiça e santidade de Cristo, como se eu nunca tivesse tido ou cometido qualquer pecado, e como se eu mesmo tivesse cumprido toda a obediência que Cristo transmitiu a mim; se eu apenas aceitar tal benefício com um coração crente.

E quanto a santidade pessoal e boas obras? Elas não são mais necessárias? Os crentes estão livres da necessidade de fazer boas obras por causa de sua justificação? Eles são livres para pecar?

Estas são perguntas que Paulo enfrentou após falar das glórias de nossa justificação pela graça somente, através da fé somente e em Cristo somente em Romanos 3 a 5. Paulo responde com seu conhecido e enfático “De maneira nenhuma!” à pergunta de se os cristãos são livres para pecar por causa de sua justificação. A realidade para qual ele aponta como a razão pela qual não podemos mais viver em pecado, é nossa união com Cristo:

Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. (Rm. 6:4-5)

Em outras palavras, em nossa união com Cristo, recebemos não apenas o benefício da justificação, mas também temos o benefício da santificação. Muitas pessoas pensam que sua santificação, sua transformação espiritual e conformação à imagem santa de Cristo, é simplesmente uma questão de tentar com mais vontade, vestir toda sua armadura moral — de decidir ser mais santo. Contudo, uma coisa que deveria estar clara é que Jesus claramente nos diz que a única maneira de produzirmos fruto é se habitarmos nele: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:5).

Devemos perceber que não devemos viver para a vida, mas a partir dela — fomos crucificados com Cristo e não somos mais nós que vivemos, mas Cristo que vive em nós (Gl. 2:20). Cristãos têm a grande certeza de que quando somos unidos a Cristo pela fé, nós recebemos a Cristo plenamente e todos os benefícios da redenção, não apenas alguns deles.

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Por J.V. Fesko. Extraído do site http://www.ligonier.org/ © 2013 Ligonier Ministries. Original: Union with Christ in Paul’s Epistles
Este artigo faz parte da edição de Fevereiro de 2013 da revista Tabletalk sobre “União com Cristo”.
Tradução: Alan Cristie. Editora Fiel © Todos os direitos reservados.
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Fonte: Voltemos ao Evangelho

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O Estado laico não é Estado ateu - Entrevista ao Jornal Tribuna de Minas



Entrevista concedida pelo advogado Ives Gandra Martins ao Jornal Tribuna de Minas, em 04.08.2013


1) Como definir de forma reduzida o chamado Estado laico? Essa definição é aplicada, na prática, no Brasil?
- O Estado laico não é um Estado ateu. Não é o Estado em que somente os que não acreditam em Deus têm o direito de dirigi-lo. Seria, se assim fosse, a brutal ditadura da minoria. Estado laico é aquele definido por Cristo: "Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus". No Estado laico, todos os cidadãos que acreditam em Deus, enquanto cidadãos têm o direito de expor sua opinião  e defenderem suas posições, prevalecendo, numa democracia, a opinião da maioria.

 2) Do ponto de vista jurídico, a atuação das chamadas bancadas evangélicas/religiosas a serviço do interesse de igrejas e religiões são legais? E do ponto de vista moral? 
- No exercício da cidadania, todos têm o direito de expor sua opinião. Os ateus e agnósticos 
atacando a religião e querendo calar a opinião da maioria -segundo pesquisa da Folha mais de 90% da população acredita em Deus-- e os evangélicos defendendo os valores que entendem devam prevalecer numa sociedade. Do ponto de vista moral, tanto uns quantos outros têm o mesmo direito de manifestação, próprio de uma democracia.

3) Alguns protestos, como uma encenação observada durante "Marcha das vadias", no Rio de Janeiro, envolvendo objetos que fazem parte da cultura católica, provocou grandes embates nas redes sociais entre defensores e detratores do ato. Como você observa a polêmica? Foi configurado algum crime nessa ocasião? 
- Numa democracia, o respeito à opinião alheia é demonstração de maturidade. As vadias não demonstraram ainda estar preparadas para exercê-la, pois ao utilizarem, como argumentos, os seios descobertos para exibirem o seu “status” de vadias e os pés para destruir objetos sagrados, puseram de lado a inteligência que é aquela que pode gerar argumentos para o debate democrático. Tanto é assim que eram mil vadias entre 3 milhões de católicos. Talvez com o tempo, deixem de usar os seios e os pés e passem a usar a inteligência, com o que se inserirão no embate democrático. A verdadeira democracia conhece apenas a força do argumento e não o argumento da força.

4) Recentemente, um grupo de manifestantes invadiu  o plenário da Câmara de Juiz de Fora e um estudante - diante da imprensa e dos demais presentes - rasgou uma Bíblia da Mesa Diretora aos gritos de "o Estado é laico. Tal atitude configura algum tipo de crime? 
 - É outro rapaz que ainda não sabe o que é democracia. Está na linha das vadias. Nem entende de Estado laico. Einstein dizia que duas coisas são infinitas: a burrice e o Universo, mas não estava tão certo sobre o Universo.
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sábado, 27 de julho de 2013

Solus Christus, não solus papa!



Por pr. Alan Kleber


Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!


Com essas palavras o papa Francisco, Bispo de Roma, impactou o povo brasileiro com seu primeiro discurso no Brasil, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ2013). Até mesmo os evangélicos contagiados com tanta empolgação fomentada pela imprensa, espalharam sua célebre frase nas redes sociais, “twitando” ou postando no Facebook. De fato, se tomássemos apenas esta única afirmação do papa poderíamos acreditar que para ele, somente Cristo (i.e, Solus Christus) é o único, suficiente, soberano e primaz cabeça da Igreja, certo?

O problema é que o papado não é somente não cristão, mas também abertamente anti- cristão. Historicamente, os papas ensinam aos seus fiéis que eles podem com suas obras chegar ao Céu porque o papa, o vigário de Cristo na terra, entende a Escritura para ensinar a verdade acerca da fé e prática. Para ele Cristo simplesmente não é suficiente. Os homens devem fazer sua parte também. Veja por exemplo, o dogma romano encontrado nas seções 10 a12 sobre a doutrina da justificação do Concílio de Trento:

Cân. 10. Se alguém disser que os homens são justificados sem a justiça de Cristo, pela qual ele mereceu por nós; ou que é por ela mesma que eles são formalmente justos — seja excomungado.

Cân. 11. Se alguém disser que os homens são justificados ou só pela imputação da justiça de Cristo, ou só pela remissão dos pecados, excluídas a graça e a caridade que o Espírito Santo infunde em seus corações e neles inerem; ou também que a graça pela qual somos justificados é somente um favor de Deus — seja excomungado.

Cân. 12. Se alguém disser que a fé que justifica não é outra coisa, senão uma confiança na divina misericórdia, que perdoa os pecados por causa de Cristo ou que é só por esta confiança que somos justificados — seja excomungado.


Seria Cristo ou o papa Francisco o verdadeiro Cabeça da Igreja?

Ao aceitar o pontificado, o papa Francisco reivindicou ser o Cabeça da Igreja. Sua teologia romana é consistente com a doutrina romana. Os Concílios da Igreja de Roma ensinam que:

- A “jurisdição sobre a igreja universal de Deus” pertence ao papa (Vaticano I, Capitulo 1);

- Que essa autoridade deve “permanecer ininterruptamente na Igreja” e que ele, o papa, “possui o primado sobre todo o mundo… e [é] o verdadeiro vigário de Cristo na Terra” (Vaticano I, caps 2 e 3);

- Que o Papa é a “fonte e fundamento visíveis para a unidade na fé e comunhão” Também se diz que “em virtude de seu oficio, isto é, como Vigário de Cristo e pastor de toda a igreja, o Pontífice Romano tem poder completo e supremo e universal sobre a Igreja” (Vaticano II).

Mas não para por aí

Você lembra do problema das indulgências que levou Martinho Lutero a publicar suas famosas 95 Teses contra os abusos papais? Pois bem, leia um trecho abaixo do Decreto onde o papa Francisco concede o “dom das indulgências” aos participantes da JMJ2013:

“O O Santo Padre Francisco, desejando que os jovens, em união com as finalidades espirituais do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, possam obter os esperados frutos de santificação através da «XVIII Jornada Mundial da Juventude», … manifestando o coração materno da Igreja, do Tesouro das satisfações de nosso Senhor Jesus Cristo, da Bem-Aventurada Virgem Maria e de todos os Santos, concordou que os jovens e todos os fiéis adequadamente preparados pudessem usufruir do dom das Indulgências”.

“a. — concede-se a Indulgência plenária, que pode ser obtida uma vez por dia nas habituais condições (confissão sacramental, comunhão eucarística e oração segundo a intenção do Sumo Pontífice) e também aplicadas como sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, para os fiéis verdadeiramente arrependidos e contritos, que com devoção participarem nos ritos sagrados e nos exercícios piedosos que se realizarão no Rio de Janeiro”.

Segundo a teologia romana, as indulgências são: "… a remissão diante de Deus da pena temporal merecida pelos pecados, já perdoados quanto à culpa, que o fiel, em determinadas condições, adquire para si mesmo ou para os defuntos, mediante o ministério da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos" (Catecismo da ICAR, n. 312).

Como vimos, Roma não mudou. Seus anátemas contra todo aquele que crê em Cristo como seu único e suficiente Salvador permanecem. A salvação somente pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9) é trocada pelo esforço humano, por obras meritórias. O Senhorio do Rei dos reis continua sendo usurpado pelo papado. Logo, a Palavra de Cristo, infalível e verdadeira permanence substituída por dogmas, tradição e superstição humanas.


Conclusão

Quanto a nós, protestantes, cristãos herdeiros da Reforma, resta-nos lembrar o fundamento da nossa fé e doutrina, vida e piedade, alicerçado no fundamento dos apóstolos e profetas, tendo Jesus como sua pedra fundamental. Concluo com esta última citação de algumas das Teses de Lutero:

32 - Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.

33 - Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus (33a tese).

34 - Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.

35 - Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.

36 - Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

37 - Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.


Solus Christus,

Fonte de pesquisa: 





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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Carta ao meu filho sobre jugo desigual



Por Josafá Vasconcelos

Esta carta foi por mim escrita e dirigida ao meu filho Samuel, que anos atrás se envolveu emocionalmente com uma jovem descrente. Na época minha esposa e eu ficamos muito preocupados e iniciamos uma batalha pela salvação de sua alma. Graças ao Senhor ele considerou a Palavra de Deus, e, por Sua misericórdia, libertou o meu amado filho de cair na “linsonja da mulher estranha”. Hoje ele está casado com Helen, uma serva de Deus, com quem tem uma mimosa filhinha da aliança, Sara.

O propósito de publicar esta carta é advertir aos jovens que estão no mesmo envolvimento emocional, sendo seduzidos por Belial até que a “flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se apressa para o laço, sem saber que isto poderá lhe custar a vida”. Meu desejo também é de encorajá-los a ouvirem a voz da Sabedoria ― o Senhor Jesus.  
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Meu querido filho Samuel, meu primogênito, consagrado ao Senhor. Sua mãe e eu o amamos muito e nutrimos grande esperança de vê-lo feliz e abençoado, principalmente sendo útil na causa do Mestre. Temos orado incessantemente por você, principalmente agora que você está passando por essa provação. Como seu pai e também como seu pastor, quero, com muito amor, mas também firmeza, lhe trazer, em nome do Senhor, uma exortação bíblica, que espero possa lhe ajudar a tomar a decisão certa neste caso.

Meu filho, Deus propôs, desde a eternidade, escolher um povo para si, resgatá-lo e separá-lo dos demais povos, para que fosse exclusivamente seu. Estabeleceu com ele uma aliança para se relacionar e lhe pôs um selo específico (uma marca) para distingui-lo e proibiu terminantemente o relacionamento mais íntimo de qualquer dos seus filhos com os demais pecadores. Desejo lhe mostrar na Escritura, desde o Éden, este propósito da parte do Senhor. Deus prometeu um salvador a Adão e a Eva, bem como a toda sua descendência (Gn. 3:15). Caim matou Abel, e não foi contado como pertencente à Aliança. Por isso a descendência chamada santa, ou dos filhos de Deus, começou no capitulo 5 com Sete: “Viveu Adão cento e trinta anos e gerou um filho à sua semelhança e conforme a sua imagem e chamou-lhe Sete” (Gn. 5:3). Caim não foi considerado e Abel já estava com Senhor.

No capitulo 6, encontramos a primeira ameaça, que trouxe desgraça e destruição: “Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus, que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si, mulheres...” (Gn. 6:1-2). Essa contaminação provocou a ira de Deus que chegou a se arrepender de ter feito o homem e destruiu a maioria deles no dilúvio. O casamento misto, reduziu o número dos participantes da aliança a 8 pessoas! De Noé, Deus escolheu Sem e assim retomou a linhagem santa até o Abraão, quando, de um modo mais claro, revelou sua vontade de manter um povo distinto na terra, para o louvor de sua glória, chamando Abraão e estabelecendo uma aliança com ele. Quando Isaque, seu filho, alcançou a idade adulta, Abraão mandou seu servo buscar, junto aos seus parentes, linhagem de Sem, mulher para ser esposa do seu filho. Abraão foi tão enfático em insistir que só poderia ser uma jovem de sua parentela que fez o servo jurar solenemente colocando a mão debaixo de sua coxa (Gn. 24:1-9). Por quê? Porque Abraão conhecia os propósitos do Senhor e os terríveis prejuízos que viriam caso a linhagem santa fosse contaminada.

O mesmo sucedeu quando Jacó e Esaú estavam na idade de se casarem. Rebeca e certamente seu pai Isaque, estavam tristes e preocupados com a possibilidade de seus filhos contaminarem a aliança com o casamento misto, veja: (Gn. 27:46 e 28:1-9). Jacó obedeceu, mas Esaú não, e foi deixado de fora. Outra ameaça surge no cap.34, do mesmo livro, com o estupro de Diná. Foi proposta uma ”conversão” forjada, que seria de grave conseqüência para o povo todo, e Deus usou o ódio dos irmãos de Diná, para destruir aqueles homens de Siquém “circuncidados”.

 Muitos anos se passaram até que Satanás voltasse a ameaçar a pureza da Aliança e o povo de Deus com o pecado do relacionamento misto. Agora o povo de Deus estava atravessando o deserto. Balaque, rei dos moabitas, temendo a Israel, contratou Balaão para maldiçoar o povo, mas Balaão embora no íntimo quisesse, não conseguiu. Foi então que, inspirado por Satanás, ensinou a Balaque uma fórmula maligna e infalível: o relacionamento misto (Nm 31:15-16). Isso resultou num grande juízo da parte de Deus contra o povo e morreram 24.000 pessoas vitimadas por uma terrível praga, que só cessou quando Finéias transpassou com sua lança um israelita que chorava agarrado à sua namorada estrangeira (Nm 24 — leia todo). Temos mais tarde o caso de Sansão. Deus se utilizou das loucuras de Sansão para livrar Israel, mas isto não o isenta da culpa de ter se casado e depois se relacionado com mulheres que não eram da aliança.

Quando quis se casar com uma filistéia, seus pais o recriminaram, (Juízes 14:1-3) porque sabiam que esta desobediência cheirava ruína e morte. Agora a Escritura expõem a triste experiência de Salomão, um jovem rei, que contou com o apoio de seu pai que o aconselhou (I Reis 2 :1-4) e o instruiu (Prov. 4). Tinha a melhor das intenções, pediu sabedoria e recebeu, mas arruinou-se por causa do pecado do casamento misto. O capitulo 11 de I Reis diz: “Ora, além da filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônita e hetéias, mulheres das nações de que havia o Senhor dito a Israel: não caseis com elas, nem casem elas convosco, pois vos perverteriam o coração, para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou Salomão pelo amor”.

Após o exílio, depois de grande sofrimento, em fim o povo retorna para sua terra, por mercê de Deus. Mas Esdras descobre que algo estava errado e a ameaça estava de novo rondando o povo, era o pecado do casamento misto. Sob a liderança de Esdras o sacerdote, o povo foi exortado fortemente e uma grande consternação e arrependimento tomou conta dos que haviam voltado a Sião por terem se envolvido em casamento misto. No capitulo 10 de Esdras, vemos a descrição desse fato e do drama que se instalou na difícil tarefa de ter que despedir as mulheres estrangeiras e seus filhos.

Neemias, servo do Senhor, na mesma ocasião, como governador, usando de sua autoridade, tratou com severidade os envolvidos. “Contendi com eles e os amaldiçoei e espanquei alguns deles e lhes arranquei os cabelos...” e os admoestou relembrando-lhes o que acontecera com Salomão, cujas mulheres estrangeiras o fizeram cair em pecado. (Ne. 13:21-27) No Novo Testamento, nada mudou a este respeito, a aliança é a mesma e os seus termos também. Em Cristo fomos chamados para debaixo da aliança, para dentro da comunidade de Israel (Ef 2:12-13). Somos agora o povo santo de Deus (I Pe. 2:9-10), seus filhos e, o mesmo que Ele requereu deles no Velho Testamento, requer agora de nós: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulo...que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união do crente com o incrédulo?” (II Co. 6:14-18). Casamento, somente “no Senhor” (I Co. 7:39). Por isso, meu filho, não podemos sequer admitir um envolvimento, ainda que seja apenas sentimental, de um filho da aliança, com uma moça ímpia, filha de Belial. Lembre-se que para o Senhor Jesus, não é pecado somente aquilo que é externo, mas o que já existe no coração (Mt. 5: 27-28).

Meu filho, por quem tenho derramado lágrimas, intercedendo e suplicando todos os dias diante do trono da graça. Sei que esse sentimento é involuntário, e você não é responsável por ele, mas o ter facilitado para que ele surgisse, e visse a nutri-lo e protegido. Isso é pecado e entristecesse a Deus. É preciso ser mais duro contra o pecado, não acaricie aquilo que corre como câncer no seu coração e que no fim lhe leva à morte. Rogue a Deus e implore para que Ele extirpe do seu coração este sentimento.
Tome providências severas contra ele. Corte todos os meios para que ele seja nutrido. Faça exatamente o que diz o texto: “retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor” (II Co. 6:17,18). Eu sei que dói, mas o Senhor sofreu muito mais por você. Sei que você tem tentado resistir, mas... “Ora na vossa luta contra o pecado ainda não resististe até o sangue” (Hb 12:4). Estamos orando por você, sua mãe e eu, “na expectativa que Deus lhe conceda, não só o arrependimento... mas também o retorno à sensatez, livrando-o dos laços do diabo...” (II Tim. 2:26).

Deus o abençoe!

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Fonte: Os puritanos


quinta-feira, 18 de julho de 2013

A história, a tradição e o exemplo que se deseja esquecidos




Por Márcio Jones


Referenciais são de extrema relevância. São elementos componentes de nossa visão de mundo, das lentes por meio das quais enxergamos as coisas e nos posicionamos a respeito daquilo que nos é apresentado. Portanto, nossos conceitos e ações advêm desses vetores. Nesse quesito, há contextos em que o subjetivismo é a linha reinante, o filtro. A experiência proveniente de vivências anteriores torna-se o supremo tribunal de recursos. São invocadas como dignas de absoluto crédito e aceitação, como se fossem dotadas de autoridade inquestionável, elevando-se à categoria de valores objetivos. E nessa toada, a inovação é sempre melhor e vem para suceder o que passou.
No que toca ao cristianismo em seus moldes modernos, há peculiaridades que merecem atenção. Particularmente, é interessante como a experiência subjetiva adquiriu relevância desde algum tempo, sobretudo em desfavor da história da igreja cristã e da contribuição deixada por tantos quantos palmilharam esse estreito caminho antes dos cristãos da atual geração. Há quem detenha uma maneira tal de pensar que diga: "O Espírito foi dado a mim, logo entendo ser plenamente autossuficiente no entendimento da Bíblia", como se o Espírito Santo fosse privilégio exclusivo dos cristãos do século XXI ou mesmo o cristianismo tivesse nascido em nossos dias. Vejo nisso um quê de arrogância e prepotência, e até mesmo ignorância bíblica. Será que a Escritura nos orienta a, como igreja cristã, viver uma história fragmentada, descontínua, geração após geração, desconhecendo o legado dos mais antigos e sendo mestres de nós mesmos? Será que, como diz o professor de História da Igreja Cristã Juliano Heyse, ao citar o exemplo da garotinha que, quando incumbida de falar acerca da história da igreja, começa sua fala citando a igreja onde congrega, o prédio em que são realizadas as reuniões semanais, e que teve início com o pastor "fulano" no ano tal. Não pretendo conferir à tradição status normativo, como fazem os romanistas. Entretanto, chamo à atenção para aspectos os quais muitos raramente costumamos examinar.
Podemos aprender da história? Esse foi o tema da palestra proferida por Martyn Lloyd-Jones, no encerramento da Conferência Puritana no ano de 1969. Disse o Doutor: "Talvez não exista nada que tenha denegrido tanto a glória de Deus como a história do Seu povo na Igreja. Por isso, vou tratar deste assunto sobre aprender da história. O famoso dito de Hegel faz-nos lembrar que 'O que aprendemos da história é que não aprendemos nada da história'. Ora, no que se refere ao mundo secular, essa é uma verdade indubitável. A história da raça humana mostra isso claramente. A humanidade, em sua loucura e estupidez, sempre repete os mesmo erros. Não aprende, e se nega a aprender. Mas não aceito isso como sendo próprio do cristão. O meu ponto de vista é que o cristão deve aprender da história, que, por ser cristão, seu dever é fazer isso, e deve animar-se a fazê-lo". (...) o meu argumento é que, para nós, é sempre essencial suplementar a nossa leitura teológica com a leitura da história da igreja. (...) Senão, corremos o perigo de nos tornar abstratos, teóricos e acadêmicos em nossa visão da verdade; e, deixando de relacioná-la com os aspectos práticos da vida diária, logo estaremos em dificuldade".
E qual seria a mais franca objeção a que levássemos em conta a história, a tradição e o exemplo? Penso que é a ideia segundo a qual o passado nada tem a nos ensinar. Como quando deparei, num fórum virtual, com um cristão internauta ávido em busca de métodos inovadores para aplicar nos cultos de jovens. Uma das resposta que se lhe apresentou, a mais esdrúxula por sinal, era de que ele deveria empregar ilimitadamente a criatividade, sob o pretexto da "liberdade no Espírito" e de que ser cristão é viver em "novidade de vida".  Penso que se nos inteirássemos um pouco mais da história da Igreja e dos passos dos antigos, não buscaríamos meios para entreter a Igreja, mas lhe apresentaríamos o evangelho, em toda sua antiguidade e atualidade (Rm 1.2). Igualmente, se transitássemos pela história da igreja notaríamos que não há nada novo debaixo do sol e que os modismos que surgem atualmente não são tão inéditos assim, mas uma nova roupagem de práticas antigas, que, por exemplo, eram corriqueiras antes da Reforma ou logo após esta, quando então alguns homens resolveram voltar até o primeiro século, até o Novo Testamento, voltar à Escritura.
O que nos diz a Escritura? Quando escreveu a primeira epístola, Paulo registrou: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1 Co 11.1). Seria o mesmo que dizer, imitem-me no que me assemelho a Cristo, ou, como disse Spurgeon: "Não tenham nada a ver comigo onde não tenho nada a ver com Cristo". Seria, então, um absurdo aprender a partir da conduta de outros cristãos piedosos naquilo em que eles se parecessem com o Mestre? Obviamente, não! Vejamos que o exemplo não é absoluto e irrestrito, contudo se limita ao proceder de Cristo. Notemos, ainda, que o ensino de Paulo estava calcado na transmissão da tradição. A tradição era um termo usado pelos rabinos que identificava seu conjunto de ensinamentos os quais eram transmitidos a seus alunos. A fé cristã é construída com base nas tradições ou ensinos de Cristo e de seus apóstolos (1 Co 11.2; 15.1; Ef 2.20). Paulo transmitiu tradições práticas e doutrinárias dignas de crédito, tanto oralmente como por meio de epístolas (Rm 6.17; 1 Co 11.2,23; 15.3; 2 Tm 1.13), no entanto apenas suas palavras escritas foram preservadas para nós nas Sagradas Escrituras. Por conseguinte, ninguém pode reivindicar ser detentor da tradição oral transmitida pelo apóstolo.
Assim, não só é prudente, mas altamente recomendável que, como cristãos, não vivamos como se fôssemos pioneiros, desbravadores. Existe um legado. Se compreendo que o Espírito ilumina-me a mente, hoje, para que haja a devida compreensão das Escrituras, bem como viva, em consequência, de maneira sóbria, justa e piedosa, como posso entender — ou viver como se assim entendesse —, de maneira diversa, que o mesmo Espírito não iluminou e conduziu a outros que me precederam? E, desse modo, o entendimento global a que chego deve-se alinhar à de crentes piedosos e ortodoxos ao longo da história. Não se trata de outro momento ou outros tempos. Referimo-nos a uma mensagem antiga, entregue aos santos de uma vez por todas (Jd 3). Não há adendos, acréscimos. É até mesmo uma atitude de humildade aprender de homens fiéis e zelosos pela verdade (1 Ts 1.6; 2 Tm 2.2). 

            Soli Deo Gloria.