Pesquisar este blog

Total de visualizações de página

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A MEMORIZAÇÃO DAS ESCRITURAS




Por Tom Ascol
A memorização das Escrituras parece uma tarefa desanimadora para muitos de nós. Por quê? Para alguns de nós, a memória já não é tao boa como costumava ser ou, pelo menos, como lembramos que era! "Tenho uma memória ruim" é uma expressão muito usada para nos justificarmos, quando nem mesmo tentamos memorizar a Palavra de Deus. 

Outros simplesmente nunca tentaram decorar as Escrituras. Como qualquer outra tarefa que nunca foi executada, temor e incerteza podem inibir uma primeira tentativa. Outros que já superaram esse temor, ainda assim, caminham com dificuldade  sem saber por onde começar e como fazer para decorar versículos bíblicos. 

Quando comecei a pregar em 1 Pedro, aos domingos pela manhã, pedi a congregação que memorizasse aquela epístola. Mesmo aqueles que tem memorizado as Escrituras durante muitos anos, nunca decoraram um livro inteiro de uma só vez. Meditar em 1 Pedro, nos domingos pela manhã, pareceu-nos uma grande oportunidade de tentarmos memorizar todo o livro. Um membro comentou: "Fico feliz que o pastor Tom não nos pediu isso quando começou a pregar em Jeremias!" Este seria um bom livro para colocarmos no topo de nossa lista de livros da Bíblia para decorar! Mas 1 Pedro tem apenas 105 versículos. Se aprendermos aproximadamente três versículos por semana, teremos memorizado o livro todo em pouco mais de oito meses. 

Por que devemos tentar fazer isso? Bem, a Bíblia nos oferece muitas boas razões. Deixe-me apresentar-lhe rapidamente três delas:

1. MEMORIZAR A PALAVRA DE DEUS NOS AJUDA A VIVER COM MAIS FIDELIDADE A VIDA CRISTà

No Salmo 119, verso 11, Davi ora: "Guardo no coração as tuas pa­lavras, para não pecar contra ti". Ao "guardar" a Palavra de Deus em seu coração, você estará bem equipado para lutar em sua batalha diária contra o pecado. 0 sábio Salomão nos fala assim: "Inclina o ouvido, e ouve as palavras dos sábios, e aplica o cora­ção ao meu conhecimento. Porque é coisa agradável os guardares no teu coração e os aplicares todos aos teus lábios. Para que a tua confiança esteja no SENHOR, quero dar-te hoje a instru­ção, a ti mesmo" (Pv 22.17-19). Guar­dar as palavras do Senhor nos ajudará a colocar nossa confiança n'Ele. Em outras palavras, esta disciplina nos auxiliará na luta pela fé. 

Isto é claramente demonstrado pelo próprio Senhor Jesus, durante as tentações no deserto, descritas em Mateus 4.1-11. Ele foi capaz de re­sistir aos assaltos do diabo recitando a Escritura de cor. 

2. MEMORIZAR A ESCRITURA NOS AJUDA A TESTEMUNHAR 

Quando Pedro teve a oportunidade inesperada de pregar durante o Pentecostes, ele o fez citando versículos do Antigo Testamento (At 2). Ele não possuía um pergaminho para ler; ele precisou comunicar-se a partir daquilo que havia memorizado. Não é de admirar que Pedro tenha escrito: "Estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós" (1 Pe 3.15). 

A Palavra de Deus é a espada do Espírito (Ef 6.17). Para empunharmos esta espada de maneira efetiva, precisamos tê-la prontamente disponível em nossa mente. A memorização das Escrituras torna isso possível. 

3. MEMORIZAR A ESCRITURA AUXILIA NA MEDITAÇÃO 

O Senhor nos recomenda a me­ditação como uma valiosa disciplina espiritual. Esta será auxiliada e enco­rajada, se a memorização da Escritura tornar-se habitual em nossa vida. O salmista diz: "Quanto amo a tua lei! E a minha meditação, todo o dia!" (Si 119.97). Além disso, o livro de Salmos começa com estas palavras: "Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarne­cedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dão seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido" (Sl 1.1-3). 

O Senhor fez uma referência se­melhante para Josué, antes que ele conduzisse o povo à Terra Prometida: "Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer se­gundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho, e serás bem-sucedido" (Js 1.8). 

A probabilidade de meditarmos na Palavra de Deus será muito major, se tivermos porções dela na memória e prontamente disponíveis em nossa mente e coração. 

Andy Davis é um amigo que pastoreia a Primeira Igreja Batista de Durhan, NC. Andy empenhou sua vida no esforço e encorajamento de outros, a fim de engajarem-se na tarefa de memorização de passagens extensas da Escritura. Ele contribuiu com um capítulo sobre exatamente este assunto no livro que editei, Dear Timothy (Amado Timóteo, Editora Fiel). A seguir, estão seus argumentos em favor da memorização de capítu­los e livros inteiros da Bíblia; 

1. Isto honra o testemunho que as Escrituras dão sobre si mesmas: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2 Tm 3.16); e, "Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4). Deus não desperdiça o seu sopro, pois não há palavras supérfluas nas Escrituras. E você descobrirá que alguns de seus momentos mais poderosos de convicção, discernimento e encora­jamento virão de textos inesperados da Bíblia. 

2. Uma vez que boa parte da Bíblia é escrita como um fluxo de pensamento, com o autor expondo alguns pontos gerais, de argumentação lógica, memorizar a passagem inteira possibilita um entendimento major da ideia central. Você não irá perder a floresta pelas árvores. E nem as árvores pela floresta. Todo o livro de Hebreus será como uma única 
sinfo­nia da verdade, e cada verso individu­almente na sequência de ideias tocará suas próprias notas com uma nova claridade. Este benefício da "floresta e das árvores" [ou seja, abrangendo o todo e suas partes] também irá ajudá­-lo a construir um teologia bíblica completa, sem defeitos, e sistemática, ao mesmo tempo que lhe dará enten­dimento, capacidade para pregar e ensinar versículos, individualmente, da forma adequada. 

3. Você estará menos propenso a usar versículos fora de seu contexto; como resultado da memorização de todo o livro. Um dos argumentos mais comuns usados pelas pessoas que se opõem a você em uma discussão doutrinária é: "Você está tirando isto do contexto!" Um trabalho cuidadoso no livro todo ira ajudá-lo a evitar este tipo de erro. 

4. Sua alegria continuará aumen­tando, assim como sua reverência a miraculosa infinidade da verdade nas Escrituras, conforme você descobre novas verdades dia após dia, més após mês. A disciplina de memorizar livros inteiros ira levá-lo a territórios nunca antes desbravados, e, uma vez que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil..." (2 Tm 3.16), você receberá benefícios desta jornada de descobrimento. 

ENCORAJAMENTO PARA MEMORIZAR A PALAVRA DE DEUS 

1. Lembre-se que o Senhor tem poder sobre sua mente. "Então, [Cristo] lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras" (Lc 24.45). Jesus operou de modo eficaz na mente de seus discípulos para que entendessem. Ele pode; do mesmo modo, operar em você, a fim de capacitá-lo a memorizar. Dedique o seu melhor. Faça um esforço sincero e ore para que Ele abençoe os seus esforços. 

2. Pense nos benefícios que ad­vém da memorização da Palavra de Deus! Quem dentre nós não desejaria ter a vida moldada mais e mais pelas Escrituras? Todo crente gostaria de ter as palavras da Bíblia em sua men­te, prontas para serem incorporadas em suas conversas. Estes são dois dos beneficios da memorização das Escri­turas. E claro que há muitos outros, como indicam os versos que citei anteriormente. Nós não memorizamos a Escritura com muita frequência, simplesmente porque ela não é muito importante para nós. Não gostamos de admitir, mas isso tende a ser 
ver­dade. Como ficaríamos motivados, se alguém nos oferecesse cem mil reais a cada capítulo que conseguís­semos memorizar! Você faria isso? Ao menos tentaria? Os beneficios de memorizar a palavra de Deus, como sabemos, são mais altos que qualquer quantia em dinheiro. 

Elabore um plano. Onde quer que você comece, para continuar memorizando versículos, é de impor­tância vital que estabeleça um tempo a cada dia, a fim de trabalhar em ver­sículos específicos. Ainda que sejam cinco ou dez minutos por dia, já será um bom começo. Se você puder fazer isso duas vezes por dia, seu progresso será ainda maior. 

Faca o possível para ser constante e trabalhar na memorização das Es­crituras todos os dias. Acho bastante útil anotar os versículos em pedaços de papel ou cartão. Desse modo, pos­so levá-los comigo e trabalhar neles durante o dia. Reveja o que aprendeu. A medida que você decorar mais versículos, precisará adicionar algum tempo para revisar os versículos mais antigos, enquanto trabalha nos mais recentes. Muitas vezes, no processo de revisão que emergem alguns dos mais frutíferos pensamentos para meditação. 

Por fim, peça a outros que o auxi­liem - orando por você e ajudando­-lhe a memorizar. Uma das bênçãos de trabalharmos juntos em um livro como 1 Pedro é que podemos dar assistência um ao outro durante a nossa vida diária. Quando estiver falando ao telefone, em público, antes de uma aula ou após o almoço, peca a um amigo ou a alguém da família que confira os versículos nos quais você está trabalhando. Ofereça-se para fazer o mesmo por eles. 

Ore para que o Senhor faça sua Palavra permanecer no coração e na vida de seu povo e que nós nos conformemos mais a imagem de Jesus Cristo.
---------------------------------------------------------------------------------------------
Tom Ascol, Pastor da Igreja Batista de Cape Coral, na Flórida.
Revista Fé para Hoje, n.32, 2007
Fonte: Biblioteca Evangélica

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A trágica vinda de Benny Hinn ao Brasil



Por Márcio Jones

Diante de alguma controvérsia doutrinária ou evento de questionável índole, o puritano John Owen (1616-1683) possuía um método solucionador interessante, o qual quero apresentar. Owen nunca tratou um problema direta e imediatamente; sempre o colocou em seu contexto. Além disso, não se precipitava em responder a perguntas suscitadas. Antes, perguntava: “que princípio está aqui envolvido”? Em seguida: “onde isto se encaixa na doutrina e no ensino geral da Bíblia?”. Vejo tal postura como muito equilibrada, que se distancia, principalmente, de análises equivocadas por falta de conhecimento e que diplomaticamente se adequa até mesmo à mais acirrada discussão teológica. Afinal, se nos dizemos cristãos, sobretudo reformados, invocamos como única regra de fé e prática a Sagrada Escritura, e, para solucionarmos dúvidas teológicas, devemos nos dirigir a Ela em última instância, e as paixões e partidarismos que fiquem em segundo plano.

Partindo desse pressuposto, quero tecer alguns comentários sobre a recente vinda do sr. Benny Hinn ao Brasil, sobretudo à Taguantinga-DF — cidade onde moro , e as reuniões por ele lideradas, em geral, rotuladas de “cultos de avivamento”. Entendo que é de suma importância ao se estudar determinado instituto doutrinário identificarmos aquilo que não está contido em seu conceito. Ou seja, para que compreendamos o que vem a ser um avivamento, necessário é sabermos o que não é um avivamento. Para tanto, convém que tratemos um pouco sobre o ministério de um homem chamado Charles Finney. 

No século XIX, avivamento passou a ser um assunto de grande relevância, a partir do ministério do pastor Charles Finney, então presbiteriano, mais conhecido por suas técnicas do que por sua teologia nada ortodoxa. Antes dele, tais manifestações eram tidas como soberanas, graciosas e inesperadas, provenientes de Deus. Finney, porém, após narrar uma experiência marcante com o Espírito Santo, passou a compreender que avivamento espiritual nada mais é do que o emprego de determinadas leis espirituais. Ele o comparou à semeadura. Pensava que da mesma maneira com que se cultiva uma semente, no campo espiritual, se houver rigorosa observância aos métodos corretos o avivamento é possível de ser fabricado. É dizer, se o povo de Deus se arrepender de seus pecados e os confessar, buscar a Deus em oração, o avivamento virá.

Finney, então, começou a colocar tais métodos em prática. Ele costumava visitar cidades onde havia igrejas presbiterianas ou não, nas quais fazia reuniões de uma semana, pregando contra o pecado e a necessidade de as pessoas se arrependerem de seus pecados e se humilharem diante de Deus. Com efeito, ele narra, e outros também, resultados extraordinários, como quebrantamento, cidades inteiras mudadas pelo Espírito Santo mediante. Finney então inaugura um tipo de ministério que não havia antes na igreja, que é o do ‘avivalista’, um pastor especialista em produzir avivamentos.

Em sentido contrário, à luz da Escritura notamos que avivamento não é uma ciência, como afirmava Finney, mas um dom da graça da parte de Deus, impossível de ser produzido mediante a aplicação de determinados métodos. Segundo Franklin Ferreira, avivamento é “a ação soberana do Espírito Santo, agindo de tal forma que grande número de pessoas receba o evangelho ao mesmo tempo, enquanto a igreja abandona seus pecados”. Avivamento bíblico é, sim, um retorno às Escrituras, um retorno aos preceitos divinos, abandono dos ídolos. Algumas porções bíblicas consensuais entre os teólogos atestam esse posicionamento, por exemplo: Gn 35.1-15; 2 Rs 18.1 ; 2 Cr 14 e 15; 2 Cr 26; 2 Cr 34; Ne 8, 9.

Hoje, os expedientes adotados por Benny Hinn e os rótulos de suas reuniões, nos fazem lembrar, de imediato, de Charles Finney. Como no tempo de Finney, os cristãos da atualidade perguntam: “o que importa sua doutrina, se em tudo que Benny faz há grandes resultados, grandes manifestações de Deus?”. “Ora, tudo isso é, sim, o agir do Espírito Santo!”. Vigora o pensamento pragmático, de “aparentes” resultados, de grande concentração de pessoas, de comoção e histeria coletivas, desprezado o mínimo exame bíblico.

O que pensar de um homem que abertamente diz que Deus não o permite pregar (aos 10m50s do vídeo abaixo) — sem mencionar seus outros ensinos heréticos, veja aqui , por exemplo? Ora, se é a pregação o método por intermédio do qual Deus chama seus eleitos (Mc 1:38, Rm 10.14; 1 Co 1.21) e edifica a fé destes (Rm 10.17), como posso abraçar tal declaração como se viesse do próprio Deus?! O ministério de homens como Pedro, Paulo, Apolo estavam solidamente edificados sobre a pregação do evangelho. Vejamos Paulo, que de cidade em cidade anunciava o evangelho (At 13.16-41; At 14.1-7; At 16.13,14; At 17.10-31; At 18.5-11), procurando persuadir os seus ouvintes (2 Co 5.11). O escritor aos Hebreus afirma que "nestes últimos dias, nos falou Deus pelo Filho" (Hb 1.2). Cristo é a própria Palavra inegavelmente (Jo 1.1), sem mais revelações posteriores. E o trabalho do Espírito Santo, tão mencionado pelo pastor em comento, é glorificar a Cristo (Jo 16.14), dando-Lhe testemunho (Jo 15.26). Seria no mínimo ilógico glorificar a Jesus sem pregar o próprio Jesus, que é a Palavra.

Não bastasse isso, há um convite despudorado a um cristianismo místico e esotérico que privilegia a experiência em detrimento da Escritura, como induz o referido pastor. Devemos provar os espíritos (1 Jo 4.1). E qual é o critério? Invariavelmente a Escritura, cujo conhecimento liberta (Jo 8.32). A nobre virtude dos cristãos de Bereia residia em seu hábito de não receber cegamente tudo quanto ouviam de um "avivalista" qualquer, mas em analisar avidamente as Escrituras a fim de comparar o conteúdo de um sermão com aquilo que estava escrito (At 17.11). Portanto, a experiência deve se conformar à Escritura, e não o contrário. Se assim não fosse, qual seria o critério para validar uma experiência anterior com uma posterior? E quando a comparação se der entre a experiência de um cristão e a de um budista ou de um hinduísta? Voltamos à mesma proposição: a baliza é a Escritura, a verdade que liberta, santifica e pavimenta a nossa comunhão com Deus. A fé cristã é essencialmente racional. Citando John Stott, "crer é também pensar".

            Sola Scriptura.