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terça-feira, 25 de junho de 2013

Por que ler os puritanos hoje?



Por Dom Kistler

Acredito que existem várias razões para o ressurgimento do interesse pelos Puritanos e seus escritos. Uma delas é que as pessoas estão ficando cansadas de coisas que a religião promete, mas não pode dá-las. Todo tipo de promessas são feitas, mas as pessoas investigam a religião por causa do interesse próprio, e quando estas promessas não se tornam realidade elas ficam desapontadas. Creio que elas também estão cansadas da religião superficial e sem seriedade em sua base. Muitas pessoas não louvam a Deus, porque o deus do qual a maioria ouve falar realmente não é o "Senhor Deus onipotente que reina para sempre e eternamente". Ele é simplesmente "meu amigo", e esta familiaridade certa mente produz desrespeito!

Os puritanos foram homens apaixonadamente obcecados pelo conhecimento de Deus. Eu listei 10 razões do porquê devemos ler os puritanos hoje, e cada uma delas é derivada diretamente da visão Puritana de Deus e das Escrituras.

1) Eles elevarão o seu conceito de Deus a um nível que você jamais imaginou fosse possível, e lhes mostrarão um Deus que realmente é digno de seu louvor e adoração. Jeremiah Burroughs, em seu clássico livro Louvor Evangélico, disse: "A razão porque nós adoramos a Deus de uma maneira não séria, é porque não vemos a Deus em Sua glória". O homem moderno ouve falar de um Deus que não é digno de ser louvado. Por que ele deveria louvar a um Deus que quer fazer o bem, mas não pode ser bem sucedido porque o homem nÍ o coopera? Quem afinal é soberano? O homem o é!

Leia os puritanos e você se achará, num sentido espiritual, de alguma forma sozinho. Você se sentirá empolgado com aquilo que está lendo e com o que está sentindo em seu coração, e perceberá que não há muitas outras pessoas que entenderão daquilo que você está falando; esta pode ser uma solitária experiência! Quando você experimenta a visão que Isaías teve de Deus (Is. 6), e percebe que a realidade de Deus está infinitamente além de qualquer coisa que a sua mente possa compreender, você perceberá que o homem comum não pensa muito a respeito de Deus, muito menos no nível profundo que você está pensando.

Uma das razões de termos um pensamento tão pobre é porque lemos tão pouco. Ler ajuda-nos a pensar. Nós vivemos numa "cultura fotográfica" (visual) ao invés de uma cultura tipográfica (de letras). Tudo são fotos, vídeos e filmes. Todo trabalho está feito para nós e assim não precisamos lutar com conceitos. Outra pessoa interpreta as coisas para nós com imagens. Há 400 anos atrás, as palavras estavam congeladas, estáticas numa página e estas forçavam os leitores a trabalharem mentalmente com os pensamentos ali expressos.

2) Os Puritanos tinham um "caso de amor" com Cristo, e eles escreveram muito sobre a beleza de Jesus Cristo. Um dos maiores puritanos foi Thomas Goodwin, um Congregacional. Escrevendo sobre o céu, Goodwin disse: "Se tivesse que ir ao céu e descobrisse que Cristo não estava lá, eu sairia correndo imediatamente, pois o céu seria o inferno para mim sem Cristo". O céu sem Cristo não é o céu, e se Cristo não estiver lá, eu não tenho nenhum desejo de estar lá. Estes homens estavam apaixonados por Cristo.

James Durham escreveu na sua aplicação do sermão sobre Cantares de Salomão 5:16: "Se Cristo é amor como um todo, então todo o resto é repulsivo como um todo". Nós não nos sentimos assim em relação a Cristo, sentimo-nos? Queremos um pouquinho de Cristo, mas também um pouquinho de várias outras coisas. Mas o verdadeiro cristão quer Cristo e nada além de Cristo.

Samuel Rutherford escreveu o seguinte a respeito da beleza de Cristo:

Eu ouso dizer que escritos de anjos, línguas de anjos, e mais que isso, e tantos mundos de anjos como existem pingos de água em todos os mares e fontes e rios da terra não O poderiam mostrar-lhe. Eu acho que Sua doçura inchou dentro em mim até a grandeza de dois céus.
Ah! Quem dera uma alma tão extensa, como se estendesse até a linha final dos mais altos céus para conter o Seu amor. E ainda assim eu poderia conter só um pouquinho deste amor. Oh! que visão, de estar no céu, naquele lindo jardim do Novo Paraíso, e assim ver, sentir o cheiro, tocar e beijar aquela linda flor-do-campo, a árvore sempre verde da vida! A sua sombra seria o suficiente para mim; uma visão dEle seria a garantia do céu para mim.
Se existissem dez mil milhões de mundos, e tantos céus cheios de homens e anjos, Cristo não seria importunado para suprir todos os nossos desejos, e nos preencher a todos. Cristo é uma fonte de vida; mas quem é que sabe qual a sua profundidade até o ponto mais fundo? Coloque a beleza de dez mil mundos de paraísos, como o jardim do Éden em um; coloque todas as árvores, todas as flores, todos os odores, todas as cores, todos os sabores, todas as alegrias, todos os amores, toda doçura em um só.
Oh! Que coisa linda e excelente isso seria? E ainda assim seria menos para o lindo e querido bem-amado Cristo do que uma gota de chuva em todos os oceanos, rios, lagos e fontes de dez mil mundos.

Isto é alguém que ama a Cristo, não é?

3) Os Puritanos nos ajudarão a entender a suficiência de Cristo. Isto sofre grandes ataques em nossa igreja moderna. Você pode ter Cristo para salvá-lo, mas hoje em dia você precisa da psicologia para ajudá-lo no curso de sua vida. Pode ter Cristo para salvá-lo e ajudá-lo com seus sofrimentos espirituais, mas você precisa de algo mais para estas dores emocionais profundas que sente.

Existe um livro escrito por Ralph Robinson — contemporâneo de Thomas Watson em Londres — "Cristo: Tudo e Em Tudo". Robinson escreveu mais de 700 páginas sobre um versículo de Colossenses, "... porém Cristo é tudo e em todos" (Cl 3:11). Você percebe que a questão é a nossa deficiência em entender a suficiência de Cristo. Se Cristo é tudo em tudo, como podemos olhar para qualquer outro, ou para qualquer outra coisa em busca de respostas?

No seu livro "O Tesouro dos Santos", Jeremiah Burroughs tem um sermão sobre o versículo de Colossenses. Burroughs faz uma afirmação como segue: "Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai". Nenhum de nós argumentaria contra isso, não é mesmo? Isaías nos diz que Deus verá o "fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito". Assim, Cristo é suficiente para satisfazer a Deus. Burroughs continua: "Certamente, então, Cristo é suficiente para satisfazer qualquer alma!" Você compreende o raciocínio? Coit ado daqueles cristãos que gastam suas vidas inteiras se queixando acerca de seu destino na vida, como se Cristo não fosse suficiente. Que blasfêmia é dizer que Cristo é suficiente para satisfazer a Deus, mas não é suficiente para satisfazer a mim! Muito antes de existir um Freud, um Puritano solucionou o problema da "balela da psicologia" que tanto tem fascinado e agradado a igreja hoje.

4) Os Puritanos nos ajudam a ver a suficiência das Escrituras para a vida e a piedade. Isto é o que Pedro disse (2 Pe 1:3-4). As Escrituras nos dão o conhecimento de Deus, o qual nos dá todas as coisas pertinentes à vida e à piedade. O grito de guerra da humanidade hoje é mais ou menos assim: "Estou buscando a auto-estima", ou "Quero apenas estar de bem comigo mesmo".

Os cristãos não carecem de auto-estima; eles carecem de dispensar estima a Cristo! Isaías descobriu quem Deus era e daí ele soube quem de fato Isaías era. Eu me lembro de ter sido convidado para falar numa palestra em outro continente, e pediram-me para falar de mim. Não posso imaginar nada mais constrangedor do que as pessoas ficarem sabendo algo a meu respeito. No livro "Tesouro dos Santos" de Burroughs, seu primeiro sermão é intitulado "A Incomparável Excelência e Santidade de Deus" e é baseado num versículo do Velho Testamento "Quem é como Tu, oh Deus, entre as nações?". É um sermão de 35 páginas, e Burroughs fala do esplendor de Deus em metade do sermão. Daí ele escreve sobre a segunda metade do versículo "e quem é como Tu, oh Israel?". Qual é o ponto em questão? Sendo que não há ninguém comparável ao Seu Deus, não há ninguém como você! Assim, você não precisa de auto-estima para sentir-se bem consigo mesmo; você precisa ter "Cristo-estima"; você precisa sentir-se bem com Deus.

Se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, como poderia alguém ter falta de auto-estima? Cristo deu Sua vida, pagando um alto preço por Sua Igreja. Isso é verdadeiramente digno, meus amigos!

5) Os Puritanos podem ensinar-nos sobre a extrema maldade da natureza do pecado. Edward Reynolds escreveu um livro intitulado "A Pecaminosidade do Pecado", e Jeremiah Burroughs escreveu "O Mal dos Males". Não há outra doutrina que importe sermos mais ortodoxos do que nesta. Porque se você está fora da doutrina do pecado, você está fora de toda doutrina. Este é o fio da meada que vai abrir todo o invólucro.

Burroughs escreveu 67 capítulos sobre esta premissa: O pecado é pior que o sofrimento; as pessoas farão tudo que puderem para evitar o sofrimento, mas farão quase nada para evitar o pecado. O pecado é pior que o sofrimento, isso, no entanto, é porque o pecado causa o sofrimento. De fato Burroughs vai ao ponto. O pecado é pior que o inferno, porque o pecado causou o inferno. E a causa é pior que a conseqüência da causa.

Obadiah Sedgwick, um presbiteriano Londrino proeminente e que era um membro da Assembléia de Westminster, escreveu um livro perscrutador "A Anatomia dos Pecados Ocultos" — um tratado sobre o clamor de Davi pedindo para ser liberto de pecados ocultos; aqueles pecados escondidos nos recessos mais íntimos de nossos corações. Aqueles pecados que não são conhecidos de mais ninguém, só por nós e Deus, pecados que são tão maus e condenados como quaisquer outros.

Jonathan Edwards disse o seguinte acerca do pecado: "Todo pecado é de proporção infinita, e é mais ou menos mau dependendo da honra da pessoa ofendida. Já que Deus é infinitamente santo, o pecado é infinitamente mau". É por isso que não existe esse negócio de pecado pequeno (pecadinho), porque o mais leve pecado é um ato de traição cósmica cometida contra um Deus infinitamente santo.

Simplesmente por seu enorme valor literário, este material não tem preço. As imagens de Edwards em seu sermão "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" são imbatíveis. Ele compara Deus com um arqueiro e seu arco em mãos; aquele arco está retesado e a flecha está diretamente apontada para o coração do homem; os braços do arqueiro estão trêmulos de tão firme que o arco está ao ser puxado. E Edwards diz que a única coisa que impede Deus de deixar aquela flecha voar e penetrar no sangue do pecador é o beneplácito de um Deus que está infinitamente irado com o pecado a cada dia. Um escritor secular que estava fazendo uma obra sobre Jonathan Edward s foi perguntado por um cristão: "Você sabe, se Edwards tiver razão então aquela flecha está apontada para o seu coração. Como você pode dormir à noite?". A resposta foi a seguinte: "Às vezes eu não durmo! Só espero em Deus que Jonathan esteja errado".

6) Os puritanos nos ajudarão na vida prática. O livro de Richard Baxter, "O Diretório Cristão", tem sido chamado de "o maior manual de aconselhamento cristão jamais produzido". Antes do presente século todo aconselhamento era feito do púlpito ou durante uma visita pastoral à família para catequizá-la. Os pastores eram vistos como os médicos da alma. É interessante notar que a palavra "psicologia" significa o estudo da alma. Suke, de onde temos "psyche" e de onde vem "psicologia" quer dizer "alma". Só que hoje em dia o que costumava ser a cura de almas pecaminosas, passou a ser a cura de mentes doentes (pecado virou doença). Esta tarefa foi tirada do pastor, o qual conhece a alma melhor que qualquer outro, e foi dada a conselheiros (psicólogos) dentre os quais, muitos nem mesmo crêem em Deus. Eles não podem curar males espirituais. O "Diretório" de Baxter mostra o gênio de um homem, que pôde aplicar as Escrituras em todas as áreas da vida. O Dr. James Packer chama este livro de o maior livro cristão já escrito.

O livro "A Prática da Piedade" de Lewis Bayly é um modelo de manual devocional Puritano. A idéia era a de regular o dia inteiro de um indivíduo pelas Escrituras. O Dr. John Gerstner diz que este livro deu início ao movimento Puritano.

Não havia nenhuma área da vida, criam os puritanos, que não devesse ser regulada pelas Escrituras. Mesmo o tempo a sós deveria ser posto à disposição do uso da piedade. Nathanael Ranew escreveu uma refinada obra — intitulada "Solidão Aperfeiçoada pela Meditação Divina". Esta é uma obra puritana clássica sobre meditação espiritual. A premissa de Ranew é que, mesmo quando o cristão está só ele pode "melhorar-se" a si mesmo usando sua mente para o bem, meditando em Deus e em Seus atributos. Se existisse um 11º mandamento, este seria: "Não deveis desperdiçar tempo".

Os Puritanos escreveram vários destes "manuais". John Preston pregou cinco sermões em I Tessalonicenses 5:17 sobre a oração, entitulados "O exercício diário dos Santos", os quais estão incluídos no "Os Puritanos e a Oração".

R.C. Sproul escreveu o prefácio do livro de Jeremiah Burroughs "Tratado sobre Mentalidade Terrena". Eis aí um livro sobre o grande pecado de pensar como o mundo pensa, ao invés de pensar os pensamentos de Deus e segundo Deus.

Os Puritanos tinham característica pastoral forte, além de serem muito teológicos. Christopher Love — sobre quem eu escrevi um livro "Um Espetáculo para Deus" — disse o seguinte, em seu terceiro volume sobre sermões de crescimento na graça:

Não olhe demais para os seus pecados, mas olhe também para a sua graça ainda que fraca. Cristãos fracos olham mais para os seus pecados do que para suas graças recebidas; Deus olha para suas graças e não atenta tanto para seus pecados e fraquezas. O Espírito Santo disse: "Ouvistes da paciência de Jó"; mas Deus leva em conta não o que existe de mau em seu povo, mas o que é bom nele. É mencionado o fato que Raabe escondeu os espias, mas nada é mencionado a respeito da mentira que ela contou. Aquilo que foi bem feito foi mencionado como louvável sobre Raabe. Já o que foi inapropriado está sepultado em silêncio, ou pelo menos não está registrado contra ela e nem como acusação contra ela . Aquele que desenhou o quadro de Alexandre com sua cicatriz na face, desenhou-o com seu dedo sobre a cicatriz. Deus coloca o Seu dedo de misericórdia sobre as cicatrizes de nossos pecados. Oh, como é bom servir um Senhor assim, que é pronto a recompensar o bem que fazemos e ao mesmo tempo está pronto a perdoar e esquecer o que é inapropriado. Por isso, vocês que têm só um pouco de graça, lembrem-se que ainda assim Deus terá os Seus olhos sobre esta pequena graça. Ele não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. (Is 42:3)

7) Os Puritanos nos ajudarão no evangelismo que é bíblico. Grande parte do evangelismo feito hoje é centrado no homem, mas o evangelismo Puritano era centrado em Deus. Os puritanos tinham outra doutrina, que se tem perdido hoje em dia e tem o nome de "buscar" ou "preparação para a salvação". Era uma doutrina amplamente difundida entre os Puritanos ingleses e os reformadores. Foi ensinada por Jonathan Edwards em seu sermão "Forçando a entrada no Reino", e antes disso foi ensinada por seu avô Solomon Stoddard. Stoddard escreveu "Um Guia para Cristo", q ue John Gerstner chama de o mais refinado manual sobre evangelismo reformado que ele conhece. Além deste, você poderia querer ler "O Céu tomado por violência" de Thomas Watson.

A doutrina da busca nos ensina que Deus trabalha através de meios, e se um homem deseja ser salvo ele deve se apropriar destes meios. Deixe-me dar-lhe um exemplo. A fé vem pelo ouvir, e os homens são salvos pela fé, ou melhor, os homens são salvos pela graça através da fé. Mas se preciso de fé para agradar a Deus e eu percebo que não tenho fé para crer em Deus para a salvação, o que eu deveria fazer?

E é aqui que entra o "buscar". Se a fé vem pelo ouvir, então eu devo ouvir alguém pregar um sermão ortodoxo sobre Cristo. Se Deus vai me salvar, seu meio normal será através da pregação do evangelho. Deus não tem obrigação de me salvar se eu escuto um sermão, mas Ele provavelmente não me salvará sem que eu escute um sermão sobre a graça de Deus.

O pecador, então, deve fazer todo o possível dentro de seu poder natural para amolecer o seu coração. Ele não pode merecer a salvação, mas pelo menos ele pode "cooperar" com Deus em sua salvação ao invés de opor-se a Ele. Eu não me torno agradável a Deus por estar buscando — desde que o esteja fazendo sem interesse próprio — mas eu estou sendo menos ofensivo a Deus ao invés de mais ofensivo; e mesmo se Deus não me salvar, a minha punição no inferno será menor. E os Puritanos diriam: "Se você não pode ir a Deus com um coração reto, então vá a Ele procurando por um coração reto". Busque ao Senhor.

8) Ler os Puritanos nos ajudará a ter prioridades certas. Segundo Coríntios 5:9 diz: "É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis". Um puritano falou da seguinte maneira: "O sorriso de Deus é minha maior recompensa; Sua expressão de desaprovação é meu maior temor". Se é verdade que nós nos tornamos como as pessoas com as quais gastamos o nosso tempo, então é um investimento para a eternidade gastarmos tempo com os puritanos. Então, gaste o seu tempo com o melh or! O livro "Temor Evangélico" de Jeremiah Burroughs é sobre termos a prioridade correta. Trata-se de sete sermões sobre Isaías 66:2, sobre o que significa tremer da Palavra de Deus. Se Deus fala "É para este que olharei,..., e que treme da minha Palavra", então seria sábio sabermos o que é tremer da Palavra de Deus.

9) Os Puritanos podem nos ajudar a esclarecer a questão de como um homem é justificado diante de Deus. Outro título do Solomon Stoddard é sua obra prima sobre justiça imputada: "A Segurança da Apresentação, no Dia do Juízo, na Justiça de Cristo". Não tenho como não enfatizar extremamente a importância de ser são e sóbrio sobre esta questão de justiça imputada nestes dias onde tantos não estão sendo sóbrios e claros na eterna diferença entre justiça imputada ou atribuída e justiça infundida. A diferença entre estas duas posições não é só a dist ância entre Roma e Genebra; mas é também a distância entre o céu e o inferno. Eu recomendo para as suas leituras sobre este assunto, o livro "Justificação Somente Pela Fé". Se você quer especificamente um livro puritano sobre esta questão, então leia "Os Puritanos e a Conversão", ou leia o livro de Matthew Mead, "O Quase Cristão Descoberto". Mead lista vinte e seis coisas que uma pessoa deve fazer como cristã. Fazendo estas coisas não prova que ela realmente seja cristã, no entanto não fazê-las prova que ela não é cristã. Não é para a fraqueza do coração. Esta era a versão do século 17 de "O Evangelho Segundo Jesus", 300 anos antes de John MacArthur ter escrito aquela obra preciosa.

10) Finalmente, olhemos para os Puritanos e a Autoridade da Palavra. Sabemos que as Escrituras são Deus falando conosco. O versículo clássico de Timóteo nos diz que "Toda Escritura é inspirada por Deus" (literalmente soprada por Deus). E sabemos que seja o que for que Deus diga, nós devemos obedecer. De fato foi isto que o povo de Deus do Velho Testamento percebeu. Em Êxodo 24:7 eles declaram: "Tudo que o Senhor falou nós faremos, e seremos obedientes". Não há nada que o Senhor diga que nós não devamos fazer; e se não o fazemos nós não somos cristãos! A coisa é simples assim!

Um puritano que era membro da Assembléia de Westminster em 1643 escreveu: "A autoridade da Escritura Sagrada, por causa da qual se deve crer e obedecer, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja; mas depende totalmente de Deus (que é a própria Verdade) o autor da mesma. E por isso ela deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus".

Sabemos que quando Deus fala nós devemos ouvir. De fato, grande parte da Grande Comissão é ensinar às pessoas a se submeterem à autoridade da Palavra de Deus "ensinando-os a observar tudo que vos tenho ordenado" (Mt 28:20).

Isto é o que surpreendia as pessoas quando Jesus ensinava. Mateus 7:29 diz que quando Jesus ensinava, as pessoas ficavam maravilhadas. Qual era a base para a admiração delas? "Ele estava ensinando-as como quem tem autoridade, e não como os escribas".

É exatamente assim que os pregadores devem pregar: com autoridade. É um mandamento de Deus que eles assim o façam. "Falai estas coisas, exortai e reprovai com toda autoridade. Não deixe que ninguém te despreze" Tito 2:15. Enquanto afirmamos que se Deus dissesse alguma coisa nós o obedeceríamos, nós nos esquecemos que o ministro fiel é Deus falando a nós hoje. É a visão da Reforma do ministério do púlpito: quando um ministro fiel está expondo a Palavra de Deus, é a voz de Deus que você está ouvindo e não a de um homem. E isto quer dizer que deve ser obedecida.

Mas o que você escuta após o sermão? O melhor que você ouvirá é "Isto é interessante, terei que pensar sobre isto". Mas Deus nunca nos deu Sua Palavra para ter nossa opinião ou para pensarmos sobre o assunto. Ele nos deu Sua Palavra para que a obedeçamos. O Puritano Thomas Taylor escreveu:

A Palavra de Deus deve ser pregada de tal maneira, que a majestade e a autoridade dela sejam preservadas. Os embaixadores de Cristo devem falar Sua mensagem como se Ele literalmente o fizesse. Um ministro lisonjeador é um inimigo desta autoridade, pois se um ministro deve contar "placebos" e canções doces é impossível que ele não venha trair a Verdade. Resistir esta autoridade ou enfraquecê-la é um pecado temível, seja em homens de alta ou baixa posição. E o Senhor não permitirá que seus mensageiros sejam interrompidos. Os ouvintes devem: a) orar por seus mestres, para que possam transmitir a Palavra com autoridade, com poder e claramente; b) não confundir esta autoridade nos ministros como rudeza ou antipatia, e muito menos como loucura; c) não recusar a sujeição a esta autoridade, nem ficar ofendidos quando ela sobrepuja uma prática onde eles estão relutantes em largar; pois é justo para com Deus apagar a luz daqueles que recusam a luz oferecida.

Deuteronômio 30:20 equipara um Deus de amor com obediência à Sua voz, e diz que é assim que amamos.

Bem, era assim que os puritanos viam as Escrituras. Sua elevada visão de Deus veio de sua elevada visão das Escrituras. E se nós quisermos conhecer a Deus como eles, nós devemos amar Sua Palavra como eles amaram. E este amor aumentará somente através de estudo intenso e diligente. E ler os puritanos é a próxima boa coisa. É como ir a escola com as mentes mais brilhantes que a igreja já teve.

Onde você deveria começar? Recomendo ao iniciante os seguintes títulos:

O Amor Verdadeiro do Cristão ao Cristo Invisível, de Thomas Vincent.
A Maldade do Pecado ou O Dever da Auto Negação, Thomas Watson.
Amostras de Thomas Watson, um pequeno livro de dizeres coletados.
A Graça da Lei, Ernest Kevan; um bom livro sobre o papel da lei na teologia puritana.

Os Puritanos e a Conversão, Os Puritanos e a Oração. Dois excelentes compêndios que dão ao leitor o melhor do pensamento puritano sobre os respectivos temas.

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Don Kistler é ministro presbiteriano, fundador da editora Soli Deo Gloria, onde organizou e editou mais de 150 títulos. É também fundador e presidente da editora Northhampton Press. Obteve graduação dupla em oratória pela universidade Azusa Pacific College, na Califórnia e obteve ainda os graus de Mestrado em Divindade e Doutorado em Ministério.

Fonte: Editora Fiel


Traduzido pelo ministério "Os Puritanos" e publicado na revista "Os Puritanos" em 1995.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Ensinando senso histórico à igreja




Por Carl Trueman


…e à uma discernente e sofisticada dama (de 7 anos)

Semana passada me perguntaram o porquê de alguns evangélicos se converterem à Ortodoxia Oriental ou ao Catolicismo Romano. As razões variam, estou certo disso, mas eu respondi comentando que um tema que tenho notado ao longo dos anos é o fato de que o evangelicalismo não possui raízes históricas. Isso não é dizer que não há história; é dizer que uma consciência dessa história não faz parte do pacote. Adoração rockband, pessoas belas, jovens e bem arrumadas (pessoas de meia idade um pouco infelizes de jeito nenhum) fazem parte, mas não se vê história em canto algum, a não ser em alguma referência durante o sermão a algum dos primeiros álbuns do Coldplay. Nesse sentido, consigo entender porque pessoas que procuram algo sério, algo com seriedade teológica e histórica, simplesmente desistem do evangelicalismo e começam a procurar em outro lugar. Alguns adultos querem uma fé que é similarmente adulta, afinal de contas. A pessoa que me fez essa pergunta prosseguiu e me pediu para sugerir o que as igrejas poderiam fazer para inculcar esse tipo de sensibilidade histórica. Boa pergunta. Aqui estão algumas ideias:

1. Se possível, trabalhe para assegurar que o padrão doutrinário da sua igreja é um dos credos e confissões históricos. Nós vivemos em uma era em que, seja lá qual for a retórica, o evangelicalismo tem sua agenda definida por igrejas individuais e grupos paraeclesiásticos que redigem suas próprias bases doutrinárias. Isso não é teologicamente questionável em si mesmo: muitas dessas bases são bastante ortodoxas, mesmo que bem diminutas. Mas é notavelmente um tanto quanto estranho: é difícil imaginar a indústria automobilística sendo gerenciada por grupos que continuam redesenhando a roda e afirmando que isso é uma inovação sem precedentes. E, é claro, isso não contribui em nada com o florescimento de respeito pela tradição bíblica histórica confessional e eclesiástica. Então, se houver essa opção, tente definir sua igreja em termos de algo histórico, não de um documento mais ou menos decente elaborado semana passada por um grupo de homens de sucesso em alguma sala de conferências de algum hotel.
2. Deliberadamente busque a tradição histórica da salmodia e dos hinos para adoração. Não que qualquer coisa escrita por alguém ainda vivo deve ser excluído. Longe disso. Mas tente se assegurar que as músicas da adoração refletem a abrangência cronológica da vida da igreja, do Livro de Salmos em diante. Conscientize as pessoas de que louvor e adoração não é algo que começou apenas seis meses atrás.
3. Aprenda com os padrões históricos de adoração. Há uma razão pela qual todo Domingo, na igreja onde eu prego, nós temos uma leitura bíblica seguida de uma oração de confissão seguida por um presbítero lendo palavras de perdão da Escritura. Isso dramatiza a dinâmica da salvação; e conecta o culto de Domingo da minha igreja com padrões de séculos de adoração.
4. Tempere seus sermões com referências históricas. Isso não significa que você precisa mencionar Calvino ou “o bom Doutor” com uma voz cavernosa toda vez que você expõe a Palavra. Muitas vezes esse tipo de referência serve apenas para confundir. Mas ajude as pessoas a verem como o que você está dizendo é importante e está ligado ao que a igreja tem crido ao longo de muitas eras.
5. Faça a congregação recitar um credo ou parte de uma confissão histórica durante o culto. Não necessariamente todo Domingo, mas com alguma regularidade. E explique o poder ecumênico e histórico disso: ao fazê-lo, você está se identificando publicamente com cristãos de todo o mundo e de todas as épocas.
6. Distribua livros gratuitamente como parte de seu ministério e certifique-se de incluir livros sobre história da igreja. Além disso, assegure-se que essa distribuição abrange tanto as crianças quanto os adultos. Na igreja que pastoreio, fazemos uma para os adultos e uma para as crianças todo mês. É bom começar enquanto eles são novos e introduzi-los à história da igreja. E há alguns excelentes livros de autores de livros infantis contemporâneos que escrevem sobre história da igreja: por exemplo, Simonetta Carr, Irene Howat e Linda Finlayson.
Apenas como um adendo, minha experiência indica que algumas crianças adoram esse tipo de coisa. Semana passada, durante o café após o culto da manhã, uma dama (de 7 anos de idade) de minha igreja se aproximou para me lembrar (com o que eu detectei se um certo tom gentil – e apropriado – de exortação em sua voz) que era hora de dar mais alguns livros de história para as crianças e que eu deveria lembrar que “meninas gostam de ler histórias sobre meninas e meninos gostam de histórias sobre meninos”. Assim, ontem eu dei dois livros de Simonetta sobre Joana Grey e dois sobre Agostinho.
Tudo que as crianças precisam fazer por mim é fazer um desenho de algum acontecimento do livro, para que eu possa pendurar sobre a minha mesa, no escritório da igreja. Significa muito para eles, pelo que tenho visto. Mais importante, eles começam a pensar historicamente mesmo antes de entenderem que o estão fazendo. Precisamos começar a pensar agora sobre como preparar as coisas para a próxima geração, e não simplesmente teologicamente, mas historicamente também.
Fonte: iPródigo

terça-feira, 4 de junho de 2013

Novamente, o ungido do Senhor...



Por Márcio Jones


          Marco Feliciano, direitos humanos, homossexualidade, homofobia, programas televisivos, entre outros tópicos afins. Os dias passados foram agitados. E com todos esses assuntos, também voltou à pauta, no meio eclesiástico, a célebre frase: “não toque no ungido do Senhor”. Então, pensam muitos, visto que Marco Feliciano ou quem quer que seja é pastor, é ministro da palavra, ser vedada qualquer sentença contrária que lhe diga respeito.
            Confesso que este tema me irrita um pouco. Porém, creio ter razões para isso. Não poucas foram as arbitrariedades de que tomei conhecimento, sob tal pretexto. Conheço bem o contexto neopentecostal. Foram sete anos respirando essa visão. E, nota-se, lá está não o berço da expressão — ungido do Senhor, mas de seu emprego arrogante, autoritário e amordaçador. Eis que de uma falácia de autoridade tal uso fez montaria e assim se põe a cavalgar nos arraiais evangélicos que cultivam a ignorância e o analfabetismo bíblico e teológico. Com efeito, isso se insere num processo.
Quão logo o neófito, o novo convertido, torna-se um membro, não se considera primordial o ensino quanto ao uso dos meios de graça ou relativo às principais doutrinas cristãs, por exemplo. Em seco lhe fazem engolir o que chamam de “princípio de autoridade”, uma gama de conceitos distorcidos sobre autoridade espiritual, que serve de alicerce para o que virá em seguida. É dizer, tudo o que esse neófito vier a aprender posteriormente será filtrado segundo esse conjunto de preceitos aprendidos a título de autoridade, no âmbito eclesiástico. O dito método ardiloso é eficaz, confesso, uma vez que, no futuro, passa a consistir em uma garantia que tem o líder de que não será contrastado, ou, caso o seja, em casos excepcionais, terá ao seu lado a maioria dos membros da igreja, também infectados por essa linha de pensamento, e pode, facilmente, taxar o dissidente de rebelde, alguém que "tocou no ungido do Senhor".
É esse o uso que se tem feito da referida expressão: uma carta branca conferida a um líder para expor o que pensa e fazer o que lhe convém, sendo vedado aos demais crentes contrapô-lo, censurá-lo, e até mesmo mencioná-lo pejorativamente, ainda que ele esteja frontal e notoriamente contra a Escritura. Ai de quem falar algo sobre o ungido!!
Pois bem, outros já examinaram a origem da expressão e alguns de seus desdobramentos (Como assim, "não toqueis no ungido do Senhor..."?! ; O USO CORRETO DA EXPRESSÃO "UNGIDO DO SENHOR"). Penso ser interessante analisar o porquê não devo conferir plena credibilidade a qualquer um que arrogue para si o título de ministro do Evangelho, porque “ungido”, e quais os mecanismo bíblicos para se frear tais manifestações.
          Em primeiro lugar, o alcance e significado bíblicos da expressão 'ungido do Senhor' é bastante restrito e no Antigo Testamento quer-se referir ao ato em que um profeta ou juiz, a mando de Deus, investia oficialmente um indivíduo, escolhido e designado por Javé, no cargo de rei de Israel. Na oportunidade, era derramado óleo sobre sua cabeça a fim de consumar o ato. Dessa maneira, por exemplo, procedeu Samuel para com Saul (1 Sm 10.1) e Davi (1 Sm 16.13).
    Nesse diapasão, é um tanto quanto equivocado referir-se a um ministro como ungido do Senhor. A unção como realizada no período monárquico de Israel tinha feições nitidamente de comando, de condução da vida política, militar e social, uma vez que, naquele momento, o povo requeria ser governado por um rei, como as nações em redor (1 Sm 8.4-9, 19-20). Isto é, contextos distintos e conceitos distintos. É um tentativa de repercussão de um termo em franco desrespeito à sua originalidade.
Em segundo lugar, muitos entendem como uma carta de recomendação o tão só fato de um indivíduo ser conhecido publicamente como ministro da Palavra. Isso basta! Não importa o que vive, prega ou ensina. Perceba que não é este o doutrinamento do Novo Testamento. Antes, somos instados a confrontar o ensino desses homens com o que está escrito, uma vez que, desde os primórdios da igreja, os falsos mestres se mantêm em ativa atuação, e que aquilo que por eles é propagado, na maioria dos casos, é sutil e sorrateiro, contudo letal.
Jesus fez minuciosas advertências quanto à perniciosidade do falso ensino (Mt 13.5-12; 23.1-12; 24.3-14), Paulo igualmente o fez (At 20.29-31; 2 Co 11.4-15; Gl 1.6-12; Cl 2.8; 1 Tm 4.1-5; 2 Tm 4.1-4), bem assim o apóstolo Pedro (2 Pe 2.1-3), João (1 Jo 2.18-19; 4.1-6) e Judas (3-4). Seguramente se conclui que as doutrinas do erro permeavam e continuam a permear a igreja de Cristo, cabendo aos crentes repeli-las, algo que só é possível quando existem profundas raízes doutrinárias, solidez teológica e cristocêntrica.
Posto isso, se faz assaz ingênuo crer que falsos mestres tenham dependurado em suas testas um fosforescente letreiro em luz néon que assim o indique. O critério para legitimação de alguém que se propõe ao ensino, à instrução é moral (Mt 7.15-20) e  doutrinal (At 17.10-11; 1 Tm 6.3-4; Tt 2.1).
Em terceiro lugar, ainda que, em contrariedade com o supramencionado, admitíssemos a figura do ungido do Senhor tal como seu errôneo uso corrente, inexiste poder deferido de maneira irrestrita a um líder cristão de molde a impedir lhe sejam feitas advertências (1 Sm 24.12,15; 26.9-10) ou até mesmo denúncias (1 Tm 5.19) quando este estiver em desacordo com os parâmetros estabelecidos por Deus em sua palavra.
Por último, uma compreensão mais ampla e neotestamentária da expressão em comento é a empregada por João, na primeira epístola que leva seu nome, pouco após alertar sobre o perigo da apostasia, nos seguintes termos: "E vós possuis a unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento" (1 Jo 2.20), e outra vez, logo em seguida: "Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou" (1 Jo 2.27). Crentes verdadeiros são detentores da aludida unção, que concede compreensão espiritual das Escrituras, da doutrina, bem como entendimento para distinguir entre a verdade e o erro. Trata-se de uma capacidade para discernir entre o que é consentâneo ou não às balizas estabelecidas pelo Senhor. Nessa linha — diferentemente dos pastores autoritários, todos quantos estamos inabaláveis, firmes nessa graça e nos gloriamos na esperança da glória de Deus somos ungidos do Senhor (Rm 5.2).