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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Reforma Protestante e a Igreja de Hoje



Por Kenneth Wieske



Em 31 de outubro de 1517 o monge Martinho Lutero que era Doutor e Professor na Universidade de Witemberg, na Alemanha, afixou uma lista de 95 teses na porta da Igreja com o propósito de serem analisadas e discutidas. Isso trouxe uma grande reação no mundo eclesiástico da época e deflagrou a Reforma Protestante do século XVI.

O que foi a Reforma Protestante? O que ela significa? Até os não religiosos têm conhecimento do fato, visto que trouxe grande influência não só na Europa, mas em todo mundo. A Reforma significa que a Igreja passou por uma restauração onde o clímax foi o retorno à Palavra de Deus. Podemos dizer que o ponto alto da Reforma foi o retroceder de uma igreja desviada da Palavra de Deus para os caminhos da verdade. Não foi algo semelhante a uma simples reforma de uma casa. Não foi também uma simples mudança estética ou a introdução de algumas novidades porque a Igreja precisava de coisas mais atuais. Muitos entendem “Igreja reformada, sempre reformando” como a introdução de novidades, inovações, na vida da Igreja. A Reforma foi uma volta à Palavra de Deus. Na essência não somos Luteranos, não temos oficialmente um nome de um homem – Calvinista – apesar da grandeza de Calvino, mas somos Reformados. Por quê? Porque somos a igreja de Cristo, a noiva de Cristo, a Igreja que sempre existiu e existirá. Somos uma Igreja que experimentou o processo de voltar à Palavra de Deus.

Somos a Igreja Católica que significa universal, a Igreja de Cristo em todo mundo. É uma Igreja que se livrou das doutrinas e acréscimos dos homens e voltou para a Palavra de Deus. Temos vários nomes: Igrejas Presbiterianas, Igrejas Reformadas... As igrejas Presbiterianas vieram da Escócia e Inglaterra, enquanto que as Reformadas vieram da Europa Continental como Holanda, Suíça, etc. As Igrejas Presbiterianas não têm um nome de um homem, como dissemos acima (por exemplo, “calvinistas”), mas este nome foi tirado do seu sistema de governo e isso é até uma confissão de fé. É Presbiteriana porque não é uma Igreja hierárquica, episcopal, papal, onde existe um papa que manda em tudo. A Igreja Presbiteriana é uma Igreja que voltou para a Palavra de Deus; tem a doutrina Reformada, sua Confissão é Reformada e seu sistema de governo é bíblico. As autoridades locais são os presbíteros que governam e não há forte distinção entre pastores e presbíteros, pois todos são presbíteros: os docentes e os regentes. Esta Igreja enfatiza o governo exercido por presbíteros e não por um “papa”. Mas é vergonhoso existirem Igrejas Presbiterianas que não estão praticando o que o nome diz (Presbiterianismo) e estão colocando novamente um tipo de “papa” (um homem só) que está mandando em toda a Igreja.

Hoje existem muitas Igrejas Presbiterianas liberais, que têm se voltado para uma hierarquia episcopal, papal. Não estão respeitando suas raízes. É claro que existem também Confederações de Igrejas Reformadas que estão desviadas da verdade e são liberais.

Como era a situação há 500 anos? Era uma situação terrível e triste porque o homem vivia sob o medo; só conseguia ver um Deus irado, enraivecido, que ditava castigos e julgamentos sobre a terra. Já no século XIV houve a peste bubônica que matou dezenas de milhares de pessoas e até o século XVI, milhares de pessoas passaram por muitos sofrimentos, aflições, catástrofes. A igreja se aproveitou disso para ensinar sobre um Deus carrasco que, irado, bradava com o povo exigindo arrependimento. Mas o povo não tinha a Bíblia para entender quem é Deus e como Ele se revela na Sua Palavra. O povo só tinha o que o padre dizia em latim, na missa (um ritual apenas). Isso levou as pessoas a ficarem ignorantes da Palavra e a consequência foi um povo extremamente supersticioso, vivendo numa atmosfera de medo, onde havia muitas referências de ameaças sobre o inferno, purgatório, pecado e a ira grotesca de Deus. As pessoas ficavam tremendo com a visão de um Deus iracundo. Muitas coisas eram vistas como algo demoníaco; viam-se bruxas e vultos em todo lugar. Foi um período de muita superstição e não havia a luz da Palavra de Deus. O Salmo 119 se refere à Palavra como uma luz, e essa luz faltava nessa época. Por isso o povo andava nas trevas, obscurecido, confuso, perdido e triste. Sem essa luz, as pessoas não tinham uma regra de fé e prática; não sabiam como fiscalizar o que os padres nas igrejas estavam dizendo. Os padres, bispos, cardeais e o papa podiam inventar qualquer coisa e afirmar que aquilo era o que Deus dizia. Na época, não era só a Palavra de Deus que era autoridade, mas especialmente a tradição da Igreja (Deus falava através da Igreja). Portanto, qualquer coisa que o Papa imaginasse isso era colocada como doutrina.

A igreja se aproveitou da situação para roubar o povo. Aproveitou-se do medo para roubar o povo usando como pretexto ensinos como purgatório, inferno, um Deus enraivecido, e, então, os clérigos conclamavam que dessem dinheiro para a Igreja, para Deus, e Ele receberia estas pessoas caridosas. Dessa forma a Igreja conseguiu construir grandes catedrais e os bispos e cardeais ficavam cada vez mais ricos e o povo mais pobre. Foi nesta época que o padre João Tetzel teve uma missão especial. Ele ia por todos os lugares falado “em nome de Deus e do Papa” dizendo: “Venham comprar este pedaço de papel, um documento que garante perdão a todos os seus pecados e, assim, terão acesso ao céu. Além disso, poderão comprá-lo para toda família e para pessoas que até já morreram. Se você gostava muito de seu avô que já morreu, isso poderá livrá-lo do purgatório”. Primeiro ele pregava sobre o purgatório, o inferno e do irmão de alguém que poderia estar sofrendo muito no fogo. Depois ele oferecia este documento chamado de indulgência e num momento, quando a moeda caísse dentro da caixa, a alma dos mortos pularia do purgatório para o céu. Todos queriam comprar este papel de João Tetzel para ter a garantia de que seus pecados e de seus familiares estavam perdoados, inclusive os que já haviam morrido. Assim, depois de receberem o perdão, poderiam viver de qualquer forma, fazendo o que desejavam, porque já haviam comprado o perdão e a salvação.

Lutero, vendo isso ficou irado, pois tudo era completamente contrário à Palavra de Deus. A Igreja estava tratando o arrependimento com um ato e não como um estilo de vida. Essa diferença é importante. A Bíblia na época era escrita em latim e o povo não tinha acesso a ela. É verdade que os pastores e pregadores sempre precisaram saber as línguas originais. Por isso os pastores reformados, em todo mundo, estudam as línguas originais para evitar basearem seus estudos apenas numa tradução. Em Mateus 4:17, lemos: “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. A expressão “arrependei-vos”, na versão latina (latim), é: “fazei penitência”. Então, a Igreja, sem olhar com cuidado o que isso significava, entendia que os filhos de Deus deveriam fazer alguma coisa (penitência) para cobrir seus pecados. Assim, o arrependimento tornava-se um ato. Você peca e depois faz penitência. Ora o Pai Nosso, reza a Ave Maria, dá algum dinheiro, faz caridade ou outras coisas semelhantes. Mas, Lutero tomou a Bíblia no grego, uma obra do erudito Erasmus de Roterdã, e viu que não era “fazei penitência” e sim “arrependei-vos ou convertei-vos”. O verbo não significa um ato de fazer alguma coisa, mas “humildemente tenha uma mudança de mente e de coração”. Por isso, em suas 95 teses, Lutero colocou como a primeira tese: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de arrependimento”. Então, essa mudança de mente e de coração deve se manifestar numa vida de santificação. Isso tinha consequências importantes e práticas.

Vejamos o que Lutero estava denunciando no ponto 45 e 46 das suas teses.
“Deve ensinar-se aos cristãos: um homem que vê um irmão em necessidade e passa de lado para dar o seu dinheiro para compra dos perdões, merece não a indulgência do Papa, mas a indignação de Deus” (45).

As pessoas pensavam que para tirar o pecado e a culpa tinham de fazer alguma coisa para Deus. Diziam: “Se for assim, eu vou dar dinheiro para Deus e receber um documento que me absolve, uma indulgência. Dessa forma posso adquirir perdão e ser santo.” Mas isso não tem sentido! Não podemos ver irmãos necessitados, famintos, em sofrimento, e fazer vista grossa não assistindo o carente, mas em lugar disso, vamos comprar nosso perdão. Ao invés de fazer o que a Bíblia diz, praticar a verdadeira religião que é cuidar dos necessitados, viúvas, órfãos, vamos “comprar” a graça de Deus. Esta é uma falsa doutrina.

“Deve-se ensinar aos cristãos que, a não ser que haja grande abundância de bens, são obrigados a guardar o que é necessário para os seus próprios lares e de modo algum gastar seus bens na compra de perdões” (46).

Lutero estava condenando aquele pai que, em lugar de suprir seu lar, esposa e filhos, usava o dinheiro para comprar o perdão como se fosse a vontade de Deus ver seus queridos sofrendo, tirando-lhes o pão e comprar da igreja o seu perdão. Isso era terrível. Era uma falsa doutrina. Não era alguma coisa de pouca importância como se apenas fosse um pequeno ensino diferente da Bíblia sem maiores consequências . Ao contrário, devemos dizer que falsa doutrina é um perigo para a Igreja, pois destrói a vida das pessoas. A falsa doutrina é uma força destrutiva.

Lutero vendo tudo isso e comparando com a Palavra de Deus concluiu que não deveria ser assim. Ele leu Romanos 1:16-17, e finalmente entendeu sobre a justiça de Deus que nós precisamos para entrar na Sua presença, para termos comunhão com Ele. O Salmo 15 diz: “Quem pode entrar na presença de Deus?”. “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?”. A resposta é: Ninguém —se não for completamente santo e limpo.

Então, só o homem justo pode ter comunhão com Deus. Mas como adquirir esta justiça que Deus requer? Como conseguir um nível de santidade e perfeição que permite entrar na presença de Deus e viver com Ele para sempre? Lutero, como a maioria da Igreja da época, pensava que era através de fazer coisas; de fazer boas obras, de fazer por onde merecer o favor de Deus e se esforçar para chegar a este nível. Mas ele chegou a terrível conclusão de que era impossível conseguir a perfeição diante de um Deus santíssimo. Cada vez que tentava, via o quanto era um terrível pecador aos olhos deste Deus Santo. Ao ler Romanos 1:16 e 17, Deus abriu seus olhos para que visse claramente que a justiça de Deus é revelada: “...visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho” (Rm1:17) - “é revelada”. Ou seja, que Ele está revelando na Sua Palavra e dizendo: “Minha justiça, que é meu Filho Jesus Cristo, eu a estou revelando”. Este é o dom de Deus que nos é dado como um presente para termos comunhão com Ele; para todos aqueles que, pela fé, vão a Cristo.

Lutero, nesta época entendeu estas coisas e afixou suas noventa e cinco teses na porta do Castelo de Witemberg e provocou uma “explosão” no mundo de então. Numa época em que a Igreja e Estado estavam juntos as coisas que aconteciam na Igreja repercutiam em toda sociedade. Este é mais ou menos um resumo do que estava acontecendo naqueles dias.

Semelhança com nossos dias.

Dr. Sinclair Ferguson, um Doutor e pastor Reformado da Escócia e Estados Unidos, certa vez advertiu à igreja evangélica de hoje de que uma nova escuridão estava caindo sobre nós, uma escuridão semelhante a da Idade Média, sem a luz da Palavra de Deus. Estas trevas estão caindo novamente sobre a Igreja. Ele cita cinco pontos onde os evangélicos de hoje estão caindo no mesmo “buraco negro” da Idade Média. Devemos ver como a chamada igreja evangélica dos nossos dias é semelhante àquela igreja escravizada na escuridão da Idade Média.

1) O arrependimento era visto como um ato desligado da vida de santidade.

Na Idade Média o arrependimento era um ato que alguém fazia para conseguir, por merecimento, o perdão de Deus. O ato de fazer alguma coisa e conseguir perdão era algo separado de uma mudança de coração e mente. Naquela época eu podia entrar no lugar onde Tetzel estava “pregando”, estando o meu coração cheio de pecado, mas com meu dinheiro comprar meu perdão e sair interiormente do mesmo modo como entrei: cheio de pecado, porém, agora, com o perdão. Não tinha nada do arrependimento descrito nas Escrituras. Era um simples ato. Podia-se pecar e simplesmente ir ao padre que recomendava algumas práticas, como rezar várias vezes o Pai Nosso e várias Ave Marias, algumas penitências e tudo estava resolvido. Mas, no coração não havia mudança. Hoje, em nossos dias, vemos a mesma coisa, não somente na Igreja Católica Romana, mas nas igrejas chamadas evangélicas. O grande ato de arrependimento, hoje, não é fazer penitências, ou rezar vários Pai Nossos e Ave Marias, ou comprar alguma indulgência como na Idade Média, mas o grande ato é o “aceitar Jesus” quando algum pregador arminiano faz aquele apelo após alguns minutos de pregação. Porque, se alguém aceita a Jesus está fazendo algo semelhante. Sai da igreja como se tivesse conseguido mérito diante de Deus, mesmo estando em pecado, pois esta pessoa, por seu livre arbítrio, “abriu” seu coração e deixou “Jesus entrar”. É algo meritório, pois “eu deixei” o Deus do Universo entrar em meu coração. Ele estava querendo entrar, mas não podia! Este ato torna a pessoa um “crente” e tira dele sua condição de pecado, mas quando ele cai, novamente fica em problemas. Isso era verdadeiro arrependimento? Não. Mas esse pensamento leva muitas pessoas que caíram, dizerem que um dia voltarão e “aceitarão a Jesus” outra vez fazendo um mesmo “ato de penitência” e quando o pecado sair novamente eles se acharão justos diante de Deus. Isso é exatamente a mesma coisa do que acontecia na Idade Média com a compra de indulgências que era vendida pela Igreja Católica.

Devemos fazer uma diferença entre a chamada Igreja Católica Romana, que é uma igreja que tem sua sede numa cidade da Itália (Roma), uma igreja Papal, Igreja Romanista, e a Igreja Católica da qual fazemos parte e que significa Universal, a igreja de Cristo espalhada por todo o mundo.

Enfatizamos que não há muita diferença entre aquele ato da Idade Média, onde se fazia alguma coisa para se conseguir perdão e o que vemos na igreja de hoje quando é aceito como um ato de arrependimento o “aceitar a Cristo” num apelo feito pelo pregador que escraviza as consciências dos ouvintes com suas ameaças e promessas.

Não é por acaso que hoje em dia a mesma coisa que acontecia na Igreja Católica Romana esteja acontecendo nas chamadas igrejas evangélicas. Pois, a igreja de hoje está roubando os pobres fazendo com que as pessoas deixem suas ofertas na igreja em troca de perdão. Muitos perguntam: “Você não quer deixar Deus entrar em sua vida? Você não tem fé? Abra sua carteira e dê do seu dinheiro como um ato de fé”. Então o pai de família toma seu salário de um mês e dá tudo, com a promessa de que receberá a bênção de Deus porque foi ensinado que fez alguma coisa por Deus, um ato merecedor de “bênçãos”. Isso é a mesma coisa da Idade Média. E mesmo que não seja tão evidente, o ato do apelo por decisão nos conduz de volta à ideia indulgente de arrependimento.

Assim, o arrependimento não é um ato de mudança de mente e coração realizado por Deus, mas um ato realizado por mim mesmo, com meu esforço, totalmente desvinculado de uma obra regeneradora do Espírito Santo.

2) A voz do Espírito Santo não só é ouvida quando Deus fala através das Escrituras.

As igrejas de hoje estão buscando novas revelações do Espírito. Toda vez que falamos que há uma possibilidade do Espírito de Deus falar além das Escrituras, a Bíblia “perde” todo seu valor. Isso aconteceu também na Idade Média. A Bíblia só tinha um valor supersticioso, pois se era usada, não era para levar instrução sobre a obra de Cristo e Sua salvação. Mas apenas se usava um texto de uma forma mágica para tirar “mau olhado”. Hoje se faz a mesma coisa quando vemos nos carros a figura de uma Bíblia aberta para que Deus evite algum acidente ou de alguma ação demoníaca. O mesmo que acontecia na Idade Média está acontecendo nas igrejas ditas evangélicas de hoje, porque a Bíblia não mais é a voz do Espírito Santo, mas Deus pode falar ao homem à parte das Escrituras através de revelações e através da voz direta de Deus.

A igreja de hoje não está usando a Bíblia como a única regra de fé e prática, mas está perdida, confusa, nas trevas.

Outra consequência deste ponto é que as pessoas não estão dando o valor nem a atenção devidos ao ensino da Palavra de Deus. Na Idade Média não se dava nenhum valor ao ensino da Palavra, mas procurava-se por milagres. Hoje, quando alguém recebe uma revelação extraordinária, todo mundo quer ouvir. Isso é estar no mesmo “buraco negro” da Idade Média.

3) A presença de Deus está nas mãos de um líder, de alguém que tem “poder”. 


O poder de Deus está nas mãos de um líder, alguém especial, uma pessoa “ungida” que pode comunicar o poder do Espírito através de meios físicos. Na Idade Média essa pessoa era o padre com seu poder místico que podia controlar os mistérios de Deus. Quando ele dava a hóstia, ele estava dando Jesus Cristo e o povo não entendia nada, pois o clérigo falava em latim. Mas o povo pensava que ele podia dar um pouco de Cristo quando colocava a hóstia na boca dos “fiéis” e tirar seus pecados e colocar graça. Hoje vemos o mesmo nas igrejas, na TV, nos cultos de igrejas chamadas evangélicas, onde há um grande líder da igreja que Diz: “Espírito de Deus, vem!”. Vemos isso nos movimentos neo pentecostais e carismáticos, onde até se controla o Espírito. Não há muita diferença da Igreja Católica Romana.

4) A adoração a Deus se tornou um evento para expectadores. 


A congregação está assistindo a um show, a um espetáculo e não é o corpo de Cristo adorando o Seu cabeça, não é o povo de Deus cultuando ao Senhor com reverência em Espírito e em verdade, mas é um grupo de pessoas que chegam para assistir a um espetáculo. Na Idade Média era o padre com todos os seus rituais mágicos em latim, os grandes corais e orquestras e o povo como expectadores admirando e esperando para receber o poder de Deus. Não é diferente hoje. Vemos tantas pessoas juntas que não têm comunhão e nem unidade entre elas. É como em um teatro ou restaurante onde não se têm laços fraternais entre os espectadores e os clientes. É como se fosse um “self service” onde se vai para tirar algo. Todos estão assistindo ao show, assistindo aos corais e peças teatrais. O povo só faz assistir e aplaudir.

5) O sucesso é aferido por grandes multidões e grandes edifícios. 


Na concepção de hoje, uma igreja bem sucedida é aquela que se reúne em um grande prédio com vários pastores e repleto de pessoas. Por isso surgiram as mega igrejas com milhares de membros, onde você chega com sua criança e recebe um ticket para colocar o bebê no berçário. São mega igrejas onde a cada mês pessoas entram e saem (desistem). Uma membresia que não é fixa; irmãos que não se incorporaram de fato à igreja. A visão de hoje é de uma grande multidão que lota uma igreja. Isso é sinal de sucesso e o oposto é sinal de decadência. O pastor está falando o que agrada ao povo. Isso não é uma coisa nova e diferente da Idade Média. Naquela época os cardeais estavam preocupados em construir grandes catedrais e para eles isso era a igreja; cheia de riquezas, edifícios e shows espetaculares. As pequenas e humildes comunidades não tinham valor. Hoje as pequenas igrejas não são valorizadas e muitos afirmam que o Espírito Santo não está agindo porque se Ele estivesse no meio delas estas igrejas “explodiriam” e muitas pessoas viriam. Eles afirmam: “Não foram três mil pessoas que se converteram no dia de Pentecostes? Mas se as igrejas ficam pequenas e pobres, obviamente o Espírito não está presente.”

Nestes cinco pontos podemos ver a similaridade da igreja desviada de hoje, a falsa igreja, com a Igreja Romana da Idade Média. O que muitas pessoas não entendem é que a Reforma não foi uma divisão entre Catolicismo Romano e Protestantismo. Se perguntarmos a alguém: qual foi a divisão na época da Reforma ou quais os dois grupos que surgiram com a reforma? Todos vão dizer que foram os Católicos Romanos e os Protestantes. Mas não é assim. Na Reforma nós tivemos uma tríade: Igreja Universal (Católica) de Cristo; Igreja Católica Romana e Igreja Anabatista. Temos a Igreja Católica (Universal) que é de todos os tempos e lugares, pois Cristo só tem um corpo, só há uma comunhão, uma unidade num só Espírito, uma só fé, um só Pai de todos nós. Esta igreja reformou-se. Antes desta reforma a igreja estava andando mais e mais no caminho das trevas sem conhecer a luz da Palavra de Deus. Mas na Reforma, a Igreja, pela graça de Deus, voltou para o caminho da Escritura e assim continuava como corpo de Cristo. Não era pensamento dos reformadores sair da Igreja Católica Romana e começar uma nova igreja e chamá-la de Igreja Reformada. Não, eles pensavam na Igreja de Cristo! Mas quando realizaram a Reforma, a Igreja Romana e Papal continuou no seu erro, na falsa doutrina e se manteve fora da Igreja de Cristo.

Há três caminhos na Reforma e muitas pessoas confundem as igrejas anabatistas como incluídas na Reforma e com as igrejas Protestantes. No entanto os anabatistas rejeitavam a Igreja Católica Romana. Foi um grupo de pessoas que rejeitou qualquer coisa da Igreja Romana; foi uma hiper-reação contra a Igreja Romana. Não foi uma volta para a Palavra de Deus, enquanto a Reforma Protestante de fato foi. Por isso as Igrejas Reformadas não deixaram de respeitar o valor da Santa Ceia como algo importante, não apenas para lembrar Jesus Cristo e Sua obra, mas porque Ele estava presente espiritualmente nesta ordenança. As Igrejas Reformadas não deixaram de batizar as crianças porque isso é bíblico – elas estão na aliança de Deus. Para as Igrejas Reformadas a circuncisão é agora o batismo. Mas os anabatistas fizeram tudo que puderam contra a Igreja Romana e terminaram negando tudo isso.

Hoje, infelizmente, muitas pessoas pensam que anabatistas e reformados não são muito diferentes. Mas espero que depois destes cinco pontos possamos ver que as igrejas anabatistas estão muitas vezes mostrando os mesmos erros manifestados na Igreja Romana da Idade Média. Há, portanto, uma divisão tremenda entre Reformados e Anabatistas e entre Reformados e Católicos Romanos. Não há semelhança entre Anabatistas e Reformados quando se considera a Igreja Romana.

Infelizmente, no Brasil, o ensino reformado nunca chegou de forma completa. Durante a ocupação Holandesa e Francesa, sim, mas os portugueses, ao expulsarem os invasores, expulsaram os reformados também, apesar de alguns índios terem se tornando reformados e fugiram para o interior, onde ensinaram o catecismo aos índios e seus filhos, as antigas doutrinas da graça. Os padres católicos chegavam e ensinavam que tudo aquilo era errado e que eles deveriam voltar para a Igreja Romana. Os índios diziam: não! Os padres católicos vendo a fé daqueles índios afirmavam que aqui, no interior do Brasil, estava uma verdadeira Genebra. Mas, há muito que o Brasil não está com o testemunho da Reforma. Não quero generalizar, mas hoje são poucas as igrejas Reformadas neste país. O Brasil precisa de uma reforma, à semelhança da Idade Média onde as pessoas eram completamente ignorantes da graça de Deus. Assim, as pessoas nas igrejas que se dizem evangélicas, estão sofrendo por não conhecer a graça de Deus em Cristo Jesus; não conhecem o nível de certeza do perdão nem a remissão dos seus pecados. Pastores estão dizendo que pessoas que pecam perdem sua salvação, perdem a remissão dos seus pecados e provocam assim o medo, a confusão, asuperstição, e levam as pessoas a fazerem “coisas” para comprar de Deus a Sua graça. Mas a graça é algo dado pelo Senhor e não vendido. Nosso querido Brasil precisa de reforma, de uma volta à Palavra de Deus, às doutrinas da graça.

Relembrando estes cinco pontos que abordamos podemos ver que as Igrejas Reformadas são diferentes da Igreja da Idade Média.

Verdadeiro arrependimento não é fazer alguma coisa para ganhar o perdão de Deus, mas a Palavra de Deus ensina que o verdadeiro arrependimento é concedido por Deus e manifestado numa vida de santificação. Com o verdadeiro arrependimento vem uma mudança de mente e coração, um desejo forte de viver uma vida que cresce no conhecimento do Senhor e na santificação. Por isso, nas igrejas Reformadas as pessoas não se tornam membros da noite para o dia. Isso não é porque somos cruéis e queremos deixar as pessoas de fora da verdade, mas porque os presbíteros, a liderança, não podem ver o que se passa no coração e por isso precisam de: (1) Que a pessoa confesse a sua fé, que saiba o que a Bíblia diz sobre a redenção realizada por Cristo na cruz e que isto é real na sua vida. Que a pessoa creia que já tem o perdão e vida eterna em Cristo Jesus. (2) Que a pessoa deve estar vivendo de forma consequente e aplicando esta fé em sua vida. Como os presbíteros da igreja podem saber disto? Só após um período de ensino a estas pessoas e uma observação acurada da sua vida prática; elas devem dar mostras de viver o que confessam. Às vezes um congregado poderá passar até mais de um ano sendo instruído e tendo oportunidade de mostrar através de seu testemunho de vida que sua fé não é só de palavras, mas é uma fé consequente que revela uma vida de arrependimento e santificação.

Somente as Escrituras são a única regra de fé e prática. Se na igreja, o pastor prega alguma coisa errada, um simples membro pode adverti-lo com amor e dizer que ele está ensinando algo errado. Nesse caso, o pastor deverá reconhecer seu erro e mudar. Não são os presbíteros que mandam, não são os pastores que mandam, não é o Presidente do Supremo Concílio que manda, não é o Papa, nem bispo ou cardeal, mas é a Palavra de Deus; é Jesus falando e o Espírito Santo nos lembrando de Suas palavras. Cristo fala à Sua Igreja pela Palavra (única regra de fé e prática) e não é o pastor que vai criar alguma coisa como mandar as pessoas tomarem um copo de água abençoado por ele, ou que um crente não ande de bicicleta ou de bermuda. Temos muitas igrejas que estão sofrendo porque os pastores estão impondo na cabeça das pessoas várias regras. Tudo isso porque a Palavra não é a única regra de fé e prática. Graças a Deus porque onde existir uma verdadeira igreja de Cristo não é o homem que manda, mas sim, a Palavra de Deus.

No culto Reformado a pregação da Palavra é o ponto central. Cantamos, oramos e logo abrimos a Palavra e o ensino se torna o ponto central. A Palavra é aberta e pregada porque o Espírito trabalha pela Palavra como uma espada de dois gumes para cortar o coração do pecador e para endurecer o rebelde e lhe deixar mais merecedor do inferno por rejeitá-la; mas também para cortar o coração do pecador a quem Deus derrama misericórdia para mudá-lo, trocando seu coração de pedra por um coração de carne; dá-lhe verdadeiro arrependimento e frutos da fé. A Palavra é o instrumento que Deus usa para tudo isso.

Em Romanos 10 vemos Paulo dizendo algo que vivenciamos hoje. No início deste capítulo Paulo diz que Israel estava buscando sua própria justiça: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Romanos 10:3). Diz mais que eles tinham muito “zelo por Deus, porém não com entendimento” (v.2). É o que a Igreja Católica faz ainda hoje. São zelosos, fazem muitas coisas, mas sem entendimento. São operosos, mas sem entender nada. Eles não têm lido Romanos 1:16-17, pois ali Paulo diz que Deus tem uma justiça que Ele próprio nos dá. Continuam ignorantes disso e correm a todo lugar tentando comprar esta justiça, enquanto que Deus está dizendo: “Vem, toma”. Mas eles dizem: “Eu quero comprar”. Isto é zelo sem entendimento, pois a justificação não é possível através da prática da Lei. Paulo diz no v. 8: “Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos”. Paulo fala do que é necessário para recebermos todos os benefícios de Cristo: Confessar Jesus como Senhor (v.9), ter a verdadeira fé (v.10) e como podemos adquirir esta fé salvadora: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm10:13). Apenas isso e teremos a plena remissão dos nossos pecados. Paulo ainda diz: “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram?”. Temos de crer. É impossível invocar o nome de Deus se não cremos. “E como crerão naquele de quem nada ouviram?”. Como posso crer se nunca ouvi nada a respeito dele? “E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! (Rm 10:14-15). Paulo está dizendo aqui que, a pregação é algo muito importante no processo da salvação. Na pregação, Deus se revela aos pecadores e através dela surge a fé que salva o pecador.

Mas, a Igreja de hoje não valoriza a pregação da Palavra de Deus e quer dar mais valor ao emocional, ao coral de crianças, às peças teatrais, aos testemunhos, às cantatas, etc, do que à pregação da Palavra. Esta é uma igreja que não merece o nome de igreja. É apenas um grupo religioso, um clube onde pessoas gostam de falar de religião, mas não é a Igreja de Cristo. A verdadeira Igreja prega Cristo sabendo que Sua palavra é eficaz para salvação de pecadores.

A verdadeira igreja de Deus ensina que o arrependimento não é apenas um ato, mas uma vida de santificação e só a Palavra faz isso e não a imaginação do homem (João 17:17).

A Igreja verdadeira é aquela onde se ensina que a Bíblia é a única regra de fé e prática.

A Igreja verdadeira é aquela onde o culto é reverente e dedicado à glória de Deus. Não é um show; o homem não está no centro, mas Deus. Nesta igreja os crentes se preocupam com a honra de Deus e é onde o povo de Deus tem um encontro com Ele. Mas, o culto de hoje é um conjunto de pessoas assistindo outras fazerem apresentações; é alguma coisa horizontal entre pessoas que não têm reverência, que entram e saem porque já ouviram certos testemunhos pessoais por várias vezes. O povo não está na presença de Deus; estão apenas buscando manifestações e sinais. A verdadeira igreja de Cristo adora a Deus em espírito e em verdade e em reverência.

O tamanho da igreja não é medido fisicamente, mas espiritualmente. Não medimos o sucesso da igreja pelo seu edifício ou quantas pessoas estão dentro dele. Poderemos prometer muitas coisas ao povo para fazer encher o edifício ou até prometer riquezas. O tamanho do edifício ou do número de membros não é uma manifestação do sucesso da igreja, mas o tamanho espiritual de um povo que vive a Palavra de Deus.

As igrejas sempre estão falando do Espírito Santo, mas pouco se fala do fruto do Espírito (Gl 5). Como isso é raro! O fruto do Espírito não são coisas espetaculares, impressionantes, mas é uma vida simples de serviço. Você não pode pular e gritar: “Eu tenho paciência!!”. Mas paciência se manifesta através de uma vida paciente, serena. Você não pode gritar: “Eu tenho amor!!”. Mas amor é algo que se demonstra ao irmão, ao marido, à esposa, aos filhos, aos colegas, aos vizinhos. Isso é difícil de ser visto, de ser manifestado, porém, é mais fácil buscar sinais e maravilhas, os dons extraordinários. Jesus disse que “uma geração perversa é má, busca sinais”. A igreja de Cristo não busca sinais, nem coisas que impressionem, ou prédios cheios de pessoas, mas busca crescimento no Senhor Jesus Cristo; crescimento espiritual e amadurecimento em Cristo. Como podemos crescer assim? Como podemos manifestar o amor de Cristo em nossas vidas? Como podemos testemunhar cada vez mais da obra de Jesus Cristo em nossos corações? Temos uma fonte: A Palavra de Deus. Devemos sempre voltar à Palavra de Deus – Reformado, sempre reformando. Nesta fonte somos fortalecidos na nova vida em Cristo. Nesta fonte somos cada vez mais ensinados pela graça de Deus que nos liberta do pecado; ela nos aperfeiçoa, nos faz mais maduros até que o dia da Sua vinda chegue. Tudo isso é possível se estivermos bebendo desta fonte.

Começamos vendo a questão do arrependimento que está na primeira tese de Lutero: “Nosso Senhor e mestre Jesus Cristo, em dizendo, arrependei-vos, afirmava que toda a vida dos fiéis deve ser um ato de arrependimento”. Lutero chamou a Igreja para voltar ao ensino da Palavra de Deus. A vida cristã é uma vida de santificação onde a Palavra de Deus está agindo cada dia mais nos filhos de Deus

Isso é verdade em nossas vidas? Isso está sendo ensinado nas igrejas ditas evangélicas? Creio que não. Vamos trabalhar e orar para que Deus possa agir em nosso país e produzir a reforma que precisamos.
Amém.


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Mensagem proferida pelo Pr. Kenneth Wieske, das Igrejas Reformada do Brasil (na Congregação Reformada do Ibura – Recife/outubro/2001.


Fonte: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/09/reforma-protestante-e-igreja-de-hoje.html#.UGCVgLU83IE

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Orações descabidas


(Texto do Bispo Walter McAlister)


O que estamos fazendo quando oramos? Essa é uma pergunta que me assombra há anos. Escrevi o livro O Pai Nossojustamente para abordar essa questão, pois acredito que na oração que Cristo nos ensinou há chaves que abrem portas do nosso entendimento a respeito de Deus e dos seus propósitos para conosco. Mas este post não é sobre essa oração específica. É sobre as orações que já ouvi e fiz, tanto publicamente quanto na solitude do meu quarto.

Embora não haja mal em se orar em público, muito pelo contrário, Jesus falou do perigo que há em determinadas orações públicas.

A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.” Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado. (Lc 18.9-14)

A tônica dessa passagem é simples: há orações que Deus não atende. Ele ouve todas, em Sua onisciência, mas isso não significa que aquele que ora receberá o que pediu. Não é toda e qualquer prece feita “em o nome de Jesus” que Deus aceita ou responde. Algumas chegam a ser óbvias. Nas palavras do Senhor vemos claramente a arrogância do fariseu. É fácil crucificá-lo, o difícil é olhar para os nossos erros. E a nossa arrogância? E a minha? Aí pega. Pois nem sempre a vejo, tampouco meus erros. E que orações descabidas são essas? Peguemos alguns exemplos.

Existe a oração dissimulada: “Senhor, Tu sabes que a única coisa que quero na vida é fazer a Tua vontade. Aliás, nem vontade própria tenho mais.” Deus não se impressiona com isso, pois é claro que essas palavras configuram uma mentira, mas que é bonito é. Pior é que há aqueles que de fato acreditam na própria mentira.

Existe a oração pregação: “Senhor, como já falaste, por meio da Tua Palavra, em Mateus seis, versículos quatro a seis, na versão Almeida Corrigida e Revisada, mas não atualizada, sei que… primeiro… segundo… terceiro… e, portanto…”. São muitas as pessoas que usam o ensejo de uma oração pública para extravasar a sua ambição de serem pregadoras. Já vi isso inúmeras vezes. É maçante ouvir uma oração do tipo, pois fica óbvio que não é dirigida a Deus, mas aos homens. Melhor seria nem ter “orado”.

Existe a oração anúncio: “Senhor, abençoa a reunião de milagres que vamos realizar quinta-feira que vem, com entrada franca e lanchonete aberta após o culto, que começará às sete e meia em ponto.” Dispensa comentários.

Há ainda a oração feiticeira. São orações invocatórias que simplesmente informam Deus exatamente sobre como deve respondê-las: “Senhor, ajuda o Zé a descer do muro. Afinal, já namora a Maria faz sete anos. Tu sabes que os dois devem se casar. Tu sabes que o relógio biológico dela está correndo e que ele já poderia ter proposto o casamento. Mas, Deus e Pai, ele está protelando. Até quando, Senhor? Até quando? Mude o coração do Zé para assumir logo esse compromisso. Todos sabemos que os dois foram feitos um para o outro.” E por aí vai. Já ouviu orações assim? Eu já. Cansei de ouvir pessoas instruírem Deus e ainda tentarem manipular as circunstâncias por meio de uma oração “poderosa”.

Existe a oração presunçosa. Ela se assemelha muito à oração feiticeira. Mas em vez de dizer ao Senhor o que fazer, carrega em si mais a presunção de saber qual é a vontade de Deus: “Senhor, sei que Tu só queres que eu seja feliz e tenha vida em abundância. Sei que este sofrimento é contra a Tua vontade e que o Diabo é quem está me fazendo mal. Sei que Tu não queres isto.” Sim, a oração presunçosa é encharcada de certezas e citações bíblicas fora de contexto.

Existe a oração de poder pessoal, fruto da doutrina da Confissão Positiva: “Senhor, eu tomo posse agora. Eu declaro. Eu determino. Eu afirmo.” Essa você já entendeu, tenho certeza.

Ainda existe a oração fofoca: “Senhor, toca no coração do marido da Hermínia. Tu sabes que ele anda longe dos teus caminhos. Sabemos, Senhor, que ele está em pecado. Já houve quem o visse na praça falando com a sirigaita da farmácia, cujo nome nem convém mencionar, Senhor. Ô, misericórdia! Ô, mistério! E sabemos como ele está levando a nossa querida irmã a exagerar no seu licor de fim de tarde. É uma irmã querida, mas que está caindo em pecado também. Ajuda, Pai. Sabemos que a Tua igreja não merece mais um escândalo desses – escândalo como o do pastor auxiliar de três anos atrás, mas que a maioria nem sabe bem o que aconteceu e que o levou a repentinamente pedir afastamento e a se mudar para o Acre.” Essa geralmente é reservada para reuniões especiais entre pessoas que estão mais “em comunhão”.

Deus não responde essas orações. Abomina algumas delas. E há muitas outras formas erradas de orar, citei apenas essas para mostrar que, como intercessores, podemos ser absurdamente carnais e acabar pecando contra o Senhor.

Para orar, temos que partir de um pressuposto fundamental: Deus sabe tudo. Ele sabe quantos fios de cabelo temos na cabeça. Ele sabe quantos grãos de areia há no mundo. Ele não precisa que nós o lembremos do que quer que seja. Por outro lado, Paulo disse: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.” (Fl 4.6).  Então, podemos pedir. Podemos, de coração aberto, pedir.

Por outro lado, Tiago nos avisou, quando disse:

De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. (Tg 4.1-8)

O que as orações absurdas têm em comum? Voltemos à oração do fariseu para achar a resposta: orgulho.

Tiago nos admoesta a orar com modéstia, com humildade. Quando chego perante Deus, tenho que fazê-lo com temor. Ele sabe tudo, até as palavras que vão sair da minha boca. Sou absolutamente transparente para o Senhor. Só esse fato já me desmonta, me quebranta. Não há como enganar Deus. Não há lugar para pretensão. Não há lugar para manipulação. Ao orar, estou falando com quem me criou, quem conhece o meu ser, por dentro e por fora.  E isso… ah, isso muda tudo.

Na paz,
+W


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

REFUTAÇÃO BÍBLICA DA HERESIA CHAMADA DE CURA INTERIOR



Por Daniel D. 



Sinto em ter que citar isso, mas é a pura verdade: “É compreensível que o mundo rejeite a água viva [Jesus Cristo] quando busca compreender e ajudar os que sofrem de problemas vivenciais. Contudo, à medida que o mundo passou a rejeitar as respostas bíblicas, a igreja começou a duvidar de sua própria doutrina de pecado, salvação e santificação no que se refere a sofrimentos mentais, emocionais e a problemas comportamentais”. (Livro Aconselhamento – Integrando a Psicoterapia e a Bíblia? Página 64). Infelizmente, “o caminho psicológico usurpou o lugar do caminho espiritual; as opiniões psicológicas do homem têm contaminado a Palavra de Deus” (Idem, página 65). 

Definição
 
Cura interior (psicoterapia), também chamada restauração da personalidade e restauração da alma, é um movimento neopentecostal moderno que visa a descoberta e o tratamento de problemas emocionais, como medo, complexos (de inferioridade, rejeição etc.), baixa auto-estima no intuito de que as pessoas sejam tratadas no espírito, na alma e no corpo, com ênfase na cura da alma.Coisas do passado que foram causa de sentimentos ou pensamentos negativos devem ser tratadas desde a raiz, segundo os teóricos da cura interior. A cura interior dá-se a partir de conhecimentos na área de psicologia, com aplicações de passagens bíblicas respectivas, oração, dentre outras coisas.É um termo muito usado atualmente, principalmente nas igrejas que aderiram ao G12 ou em outras simpatizantes com essa nova crença.

Somente a conversão pode restaurar o homem
 
A derrocada tentativa da cura interior de restaurar o velho homem é uma flagrante usurpação do papel da salvação na vida do cristão. Se analisarmos a doutrina da salvação à luz da Bíblia, concluiremos que salvação é “restaurar o que a queda causou”. Ora, somente com a salvação vinda de Deus o homem pode ser restaurado. Se houvesse alguma ferramenta humana para isso Deus não teria enviado seu Filho ao mundo para nos salvar. A Bíblia nos aponta que Jesus é o salvador: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido”. (Lc.19.10). Seu nome é a expressão da salvação de Deus, que vem do hebraico “Yehovshua”. Quer dizer “o SENHOR é a salvação”. Toda a ajuda vem do alto e não da terra. Quando Jesus falava de novo nascimento a Nicodemos (Jo.3.3,5), a palavra empregada no texto grego para nascer “de novo” é “anothen”, que quer dizer: de cima, do alto, de coisas que vem do céu. Em fim, para quê restaurar o homem com auxílio de ferramentas carnais, terrenas, se nós temos a providência vinda do céu? Bem disse o apóstolo Paulo: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. (2Co.10.4,5). Não precisamos utilizar da cura interior para restaurar a alma do homem, pois a ação do alto é suficiente. E quando teimamos nisso anulamos a cruz de Cristo. O apóstolo Paulo nunca ousou fazer uso de ferramentas humanas para trazer restauração nas pessoas: “Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo”. (1Co.1.17). Note o cuidado de Paulo para não introduzir em sua mensagem de restauração ferramentas de sabedoria humana.

Jesus é suficiente
 
Disse Jesus: “Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mt.11.28). Não tem como fingir ou fugir dessa realidade. Ora, se Jesus nos chama até ele e nos promete o alívio, porque buscar outras fontes se creio que Jesus é suficiente na minha vida? Na verdade, muitos pastores e cristãos estão negando a suficiência de Cristo em suas vidas. Só Jesus conhece o coração humano e sabe como tratá-lo. Só ele pode fazer com que o homem seja restaurado. Na conversão, Jesus passa a fazer morada dentro do coração humano: “Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada”. (Jo.14.23). Como uma pessoa tem Cristo em seu coração e apela para práticas da cura interior para tratar-se? É justo o questionamento de Paulo quando diz: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”. (2Co.13.5). O grande problema hoje é que os crentes não estão se convertendo, daí apelam para recursos carnais de tratamento do coração (alma).

Implantar a cura interior na vida cristã é uma negação da suficiência da santificação

Todo o processo da santificação na vida daquele que foi verdadeiramente convertido é constante, crescente e eficaz. Como figura muito a Bíblia: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. (Pv.4.18). O escritor aos Hebreus fala da santificação como um caminho a seguir: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hb.12.14). Não podemos burlar esse processo ou adiantá-lo com técnicas da cura interior. Tolo é aquele que pensa que a santificação é só para separar-nos do pecado. Não, a santificação tem o papel de nos limpar de todas as mazelas do pecado. E o pecado é a causa de todas as enfermidades físicas, emocionais e espirituais. Não fique admirado com o que vou dizer, mas todos os que seguem pelas ferramentas da psicoterapia, auto-ajuda, cura interior, etc., têm uma deficiência de entendimento das doutrinas bíblicas: do pecado e da salvação (justificação, regeneração e santificação).Vejamos os efeitos da santificação na vida daquele que faz parte da Nova Aliança:

A promessa da Nova Aliança em Ezequiel 11.19 envolve: um coração unido e não mais dividido entre traumas e Deus. Não há espaço para dor e sofrimento no coração daquele que se converteu. Deus promete colocar um novo espírito. Isto é, um novo modo de ser, novas atitudes. Mudança de coração, não mais um coração de pedra, doente, de memórias tristes, mas um novo coração. Sensível a Deus.

A promessa da Nova Aliança em Jeremias 31.31-34 envolve: um cuidado de Deus não como na aliança anterior, que tratava o exterior, mas não atingia o interior do homem (v.32). Uma aliança diferente da anterior que tinha um tabernáculo para Deus se fazer presente, mas uma nova, de Deus habitando no homem. Onde o próprio corpo do homem se torna templo e morada do Espírito de Deus (1Co.6.19). E sendo essa habitação, torna-se morada santificada, restaurada, curada para Deus morar. Um cuidado interior trazendo mudança interior. Escrevendo a Lei divina no coração e mente (v.33). Trazendo benção e cura interior dia após dia na vida do convertido. Ele não precisa verificar o que está certo ou errado moralmente falando, pois tem dentro de si a lei divina. Uma aliança onde todos os pecados são perdoados, dispensando lembranças tolas do que se fez de errado (v.34). Não tem como ser mais o mesmo um coração onde a Lei divina foi escrita; não tem como uma mente em que foi impressa a Lei do Senhor e não ser restaurada e renovada.

Tudo isso ocorre no convertido através da santificação. Todavia, a psicoterapia e todos os seus desdobramentos e práticas negam a suficiência da santificação. Embora alguns palestrantes evangélicos de cura interior não admitam essa afirmação; por mais que apregoem como ferramentas de auxílio na santificação, na prática o fazem. Como é de práxis, nas heresias e controvérsias, os divulgadores apelam para a ambigüidade e eufemismo em seus discursos defensivos. Negam de fato a suficiência da santificação.

A história do cristianismo depõe contra a cura interior

Quando ouvimos o discurso dos seguidores desse modismo, percebemos que querem nos convencer de que há pessoas na igreja que estão doentes na alma e precisam ser tratadas. Todavia, como fica a igreja no decorrer de todos os séculos antes de existirem as práticas de cura interior? Todos morreram “doentes” até que finalmente a igreja veio a contar com essa “tábua de salvação”? Ora, o primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt em 1879 em Leipzig, na Alemanha. A prática da cura interior ainda é mais atual. Desconfie de movimentos que prometem a “descoberta da roda”. Todos os cristãos desde o primeiro século até antes das tais “terapias da alma” estavam fadados a doentes e mazelados? É inconcebível essa apelação dos gurus da psicologia gospel diante do testemunho triunfante da história da igreja até hoje. De vidas libertas, transformadas, curadas e perdoadas através da fé no Senhor Jesus Cristo, da cruz, do poder da Palavra de Deus e da ação do Espírito Santo em suas vidas.

A cura interior é uma afronta a sã doutrina.
 
Finalmente, as Escrituras nos ensinam: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina”. (Tito 2.1). A sã doutrina é o ensino puro, sem mistura sobre as verdades bíblicas, inclusive as verdades que citei aqui, como a do pecado, santificação, conversão, mente cristã, restauração, Nova Aliança, etc. Se você mistura à esses assuntos as teorias da psicoterapia/cura interior pode está certo que está tornando impuro a doutrina cristã. Já não é mais sã. Por isso que afirmo ser uma afronta a sã doutrina. Pois todo o ensino necessário para a vida do cristão já existe e é suficiente:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. (2Tm.3.16).

“Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. (Rm.15.4). 





Fonte: http://anti-heresias.blogspot.com.br/2012/08/refutacao-biblica-da-heresia-chamada-de.html