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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Púlpito não é altar


Por Mario Correa


Tudo o que estamos vendo agora - todo esse absurdo no meio evangélico -, não começou agora. Esses desvios vêm ocorrendo há muito tempo, inclusive quando se convencionou chamar o púlpito - que é um palanque - de altar.

Segundo o Dicionário Michaelis, púlpito significa "Tribuna, na igreja, da qual o sacerdote prega aos fiéis". A Wikipédia traz uma descrição mais apropriada: "O púlpito é o local dentro de uma igreja onde são proferidas as leituras da Sagrada escritura... Nas igrejas católicas mais modernas e em praticamente todas as protestantes [evangélicas], o púlpito é composto de um pequeno pódio [pedestal] com um atril [estante inclinada] onde geralmente a Bíblia se encontra e de onde os leitores e pregadores costumam se dirigir à congregação. Etimologicamente: "pulpeto". Do lat. "pulpitum". Também: Tribuna, estrado. Local elevado de onde fala um orador, geralmente dentro de um templo religioso”. [Colchetes explicativos meus].

Púlpito, portanto, é apenas um lugar em posição elevada ou rebaixada para que o orador possa ser visto por todos. O púlpito é uma tribuna, lugar que encontramos em vários auditórios como as câmaras legislativas e as universidades, por exemplo. Nas igrejas possui a mesma finalidade, que é permitir que o pregador/palestrante possa ser visto por todos.





Ainda segundo o Michaelis, altar significa “1 Espécie de mesa destinada aos sacrifícios e outras cerimônias religiosas, em qualquer religião. 2 Pedra retangular, mais ou menos do formato de uma mesa, com cinco cruzes gravadas, uma em cada canto e a última no centro, sobre a tampa de um pequeno sepulcro escavado, contendo relíquias, sobre as quais se celebra o sacrifício da missa. 3 Lugar elevado para oferecer sacrifícios aos deuses ou heróis. 4 Maçon Mesa, ordinariamente triangular, em que tomam assento o venerável e outros dignitários”. A Wikipédia descreve o significado de altar assim: “Altar, do latim altare ou ara (lat. class.), plataforma semelhante a uma mesa constituída por uma rocha, elevação ou outra estrutura que possibilite ao sacerdote líder ou mentor espiritual, sacrificar à divindade, ou divindades, em um templo religioso ou local sagrado. No culto católico, por exemplo, é a mesa onde se celebra a missa. No protestantismo é a mesa de onde os pastores consagram e administram a Santa Ceia nos cultos. Para o catolicismo, o altar disposto nas igrejas e capelas é objeto consagrado e representa a Rocha sobre a qual Jesus Cristo o Cordeiro de Deus (termo que associa o sacrifício deste aos antigos sacrifícios de animais praticados pelos povos cujas religiões e cultos precederam a liturgia cristã) foi imolado e sacrificado na cruz pela redenção da humanidade. Sacrifícios de animais ainda são praticados em rituais em diversas regiões do planeta, geralmente associados a oferendas a divindades. Numa igreja católica, o altar-mor é o altar principal, geralmente mais adornado, disposto em frente à entrada principal”.


Altar, na Bíblia, no antigo testamento e na antiga aliança, era o lugar onde se oferecia sacrifícios de animais e incenso (veja Gn. 8:20; 12:7). A prática de oferecer sacrifícios e ofertas num altar já existia antes, sendo posteriormente instituída de forma ordenada na lei mosaica (vide Ex. 20:24-26; 29:12-46; 30:1-10; 40:26-29; Lv. 1-7). Haviam cinco tipos de sacrifícios e ofertas feitos pelo povo, que estão descritos no livro de Levítico capítulos 1 ao 7: a) Oferta queimada, sendo o animal totalmente queimado no altar, em demonstração de consagração; b) Oferta de manjares, i.e, de cereais, por gratidão; c) Oferta pacífica, voluntária, de ação de graças e votos; d) Oferta pelo pecado, para tirar pecados; e) Oferta pela culpa, oferecida como prova de que o culpado havia restituído à vítima o de direito. É interessante observar que não existia sacrifício em busca de recompensa material, sendo o mais próximo disso as ofertas oferecidas com voto, sendo que o votante é que se comprometia a cumprir alguma coisa - o voto - quando recebesse a benção pedida. O principal sacrifício, obviamente, era a oferta pelo pecado em busca do perdão, prefigurando o sacrifício de Jesus na cruz.

O altar para os sacrifícios, assim como o sacerdócio levítico que era parte do cerimonialismo judaico pertencente à Antiga Aliança e à Lei (Antigo Testamento), firmada por Deus com o povo israelita através de Moisés, se encerrou na cruz do calvário onde Jesus estabeleceu a NOVA ALIANÇA no seu sangue (Mc. 14:24), oferecendo-se a si mesmo num sacrifício único, perfeito e eficaz, tendo efetuado ETERNA REDENÇÃO (Hb. 9). Por isso lemos na Carta aos Efésios: “Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz... Na sua carne desfez a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças...” (Ef. 2:13-16).

Ora, se o sacrifício de Jesus é único, claro está que não há necessidade de outros. Se é perfeito, claro está que não há necessidade de correção. Se é eficaz, claro está que é suficientemente eficiente. Se efetuou eterna redenção, claro está que sendo atemporal não necessita de coisas temporais, sendo plenamente eficiente no passado, no presente e no futuro. Portanto o sacrifício de Jesus continua sendo único, perfeito e eficaz, tendo sido oferecido na cruz, com sangue que nos purifica de todo pecado.

Diante destas considerações podemos concluir que o púlpito não é um altar, porque todo altar requer um sacerdote, e a existência de sacerdote leva à necessidade de sacrifício, porque a função do sacerdote é mediar e oferecer sacrifícios. É o que encontramos na primeira Carta aos Coríntios: “Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar? (1Co. 10:18). Contudo, no tocante a Nova Aliança, encontramos na Carta aos Hebreus: “Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo" (Hb. 13:10). Ora, a principal diferença da antiga aliança para a nova aliança é que no evangelho TODO HOMEM É SEU PRÓPRIO SACERDOTE (Ap.1:6 e 5:9,10). O templo é a própria pessoa onde Deus passou a habitar mediante seu Espírito. Como lemos em Atos 7:48 e 17:24, Deus não habita em prédios-templos construídos por homens. Quando alguém apresenta um prédio como sendo a "casa de Deus" já comete um desvio, e daí para o púlpito se tornar o altar e o líder se tornar o sumo sacerdote é um pulo. Ora, o que a Bíblia Sagrada nos ensina é que na nova aliança todo homem é seu próprio sacerdote, tendo Jesus como Sumo Sacerdote, tendo sido Ele mesmo o Cordeiro que tira o pecado do mundo, tendo derramado seu sangue na cruz.

O altar do crente é a cruz onde o Cordeiro foi morto, tendo seu corpo partido e seu sangue derramado em expiação, nos purificando de todo pecado: “E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:19-20). E o que nos é dito, a partir de então, é que cada sacerdote, i.e, cada um tome a sua própria cruz, negue-se a si mesmo e se apresente como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que deve ser o nosso culto racional, nosso modo de vida (Rm.12:1). Ora, o que se pede do discípulo é que seja igual o seu Mestre: Sendo Jesus o Sumo Sacerdote e também o próprio sacrifício, o discípulo-sacerdote deve igualmente apresentar o seu corpo como sacrifício vivo negando-se a si mesmo em obediência às palavras do Mestre, que pela obediência negou-se a si mesmo até a morte na cruz (Fp. 2:8). O apóstolo Paulo declarou aos coríntios: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos”.(1Co. 1:22-23; 2:2). E assim, igualmente hoje, o evangelho da cruz é escândalo para uns e loucura para outros. Mas para nós que somos salvos, é o poder de Deus.

Portanto, meus amados, essa coisa de se chamar púlpito de altar é apenas um dos desvios que, por conseguinte, pode levar quem pensa que está no "altar" a se sentir o próprio elo de ligação entre o povo e Deus. E aí inicia-se uma nova religião onde a palavra “função” (no corpo) perde a letra “f” e é transformada em “unção”, e onde o "sacerdote-pastor-bispo-apóstolo-patriarca" passa a ser o líder a ser seguido, o “ungido do Senhor”, a “cobertura espiritual” que tem a palavra final sobre qualquer coisa, infalível, um evangélico adotando o dogma católico da infalibilidade papal. Não estou dizendo que seja errado existirem igrejas-prédios, conquanto isso seja um facilitador para a reunião da igreja-gente. O erro está em dizer que a igreja institucional (pessoa jurídica por determinação da lei) e denominacional seja a igreja de Cristo. Não é. As pessoas que congregam em tais igrejas podem ou não ser da Igreja do Cordeiro, a noiva, da qual Jesus é o único pastor, o noivo, e que somente Ele sabe quem são os seus. A parábola das dez virgens (Mt.25) e os operadores de sinais, curas e exorcismos de Mateus 7:20-23 são a prova disto: Estavam nas igrejas, mas não eram da Igreja do Senhor.

Outro desvio que temos visto constantemente é o ensino de que o crente deve ter um sacrifício no altar, sacrifício esse em forma de dinheiro, mediante ofertas pré-fixadas em campanhas, carnês de patrocinador, coluna da obra, Gideão da conquista, e por aí vai. As igrejas e líderes que pregam esse tipo de coisa recorrem freqüentemente a “testemunhos” de gente que diz ter alcançado algum tipo de benção (prosperidade, cura, etc) porque tinham “um sacrifício no altar”. Conforme já citado acima, no 5º parágrafo desse texto, não existia nas ordenanças da lei nenhum tipo de sacrifício para que se buscasse o favor de Deus para alcançar prosperidade material, sendo o mais próximo disso o sacrifício com voto, onde o votante – a pessoa que fazia o voto – é que se comprometia a cumprir o que tivesse votado caso recebesse a benção pedida. Um exemplo desse tipo de voto encontramos no livro de Juízes: “E Jefté fez um voto ao SENHOR, e disse: Se totalmente deres os filhos de Amom na minha mão, aquilo que, saindo da porta de minha casa, me sair ao encontro, voltando eu dos filhos de Amom em paz, isso será do SENHOR, e o oferecerei em holocausto” (Jz. 11:30-31). O final da história é considerado trágico por alguns, já que quem saiu ao encontro de Jefté quando ele voltou da peleja foi sua filha única, e portanto nela o voto teria que ser cumprido. (Esclarecendo, não penso que a filha de Jefté tenha sido queimada num altar, conforme o voto de seu pai, mas que permaneceu até a sua morte na casa do pai sem se casar, em condição de virgem. O sacrifício de pessoas era terminantemente proibido por Deus). Portanto o ensino dessa prática de que crente tem que ter um “$acrifício no altar” não tem fundamento bíblico, sendo mero ardil com a finalidade de arrancar dinheiro de gente desavisada, que desconhece a Bíblia.

A vida comunitária - vida em comum - é a mensagem do evangelho, e penso não ser errado ter um lugar para se reunir, lugar que convencionamos chamar de igreja. A verdadeira Igreja – que são pessoas, a igreja-gente, pode se reunir na igreja-prédio, numa casa, num clube, na praça, ou na beira de um rio - "onde estiverem 2 ou 3 reunidos ali estarei no meio deles", disse Jesus (Mt.18:20). O erro está em tentar fazer da instituição a Igreja de Cristo, dizendo que quem não estiver arrolado no rol de membros está desviado e perdido. Recentemente foi veiculada numa rádio uma propaganda com a seguinte mensagem: "Dentro da igreja institucional há vida, e fora dela há morte. A igreja (institucional) é a arca". Ora, um grande desvio, que na verdade é uma tremenda duma mentira. Basta observar o comportamento de alguns líderes religiosos para perceber que a igreja deles é puramente um negócio, um meio de se enriquecer, onde Jesus é apenas o garoto propaganda.

Enfim, se Jesus fosse cumprir seu ministério terreno hoje aqui no Brasil, certamente também não seria recebido, assim como não o foi em Israel. Ora, como o filho de um carpinteiro, sem diploma, sem curso superior, sem curso teológico, que dizia que a linda catedral de pedra seria destruída e não ficaria pedra sobre pedra, como esse poderia ser o Salvador, Redentor e Reis dos reis? Até nos milagres Jesus seria considerado fichinha.

Nada mudou, queridos irmãos, não há nada novo debaixo do sol: Uma geração má e adúltera pede sinais, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas.



Fonte: Discernindo a verdade




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