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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A União com Cristo nas Epístolas de Paulo


Por J.V. Fesko


Uma das passagens mais espantosas da Escritura aparece na abertura da epístola de Paulo aos efésios, onde o apóstolo literalmente começa do início de tudo quando escreve: “E amor [isto é, Deus] nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo” (1:4-5). Conforme Paulo revela todas as bênçãos que os crentes recebem, ele ancora a salvação em Cristo com a repetição de uma frase: “Nele…” Paulo escreve, “Nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados [...] de fazer convergir nele [...] todas as coisas [...], nele [...] fomos também feitos herança,  [...] tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (vv. 7-13, ênfase minha). Paulo repete o refrão “nele,” que nos aponta para a doutrina da união com Cristo. Mas o que exatamente é união com Cristo?

Em sua Teologia Sistemática, Louis Berkhof define a união com Cristo como “aquela união íntima, vital e espiritual entre Cristo e seu povo, em virtude do que ele é a fonte da vida e da força de seu povo; de sua bendição e salvação.” Há diversas passagens ao longo das Escrituras que revelam que os crentes são unidos a Cristo: Nós somos os ramos e Jesus é a vinha (João 15:5); Jesus é a cabeça e nós somos seu corpo (1Co. 6:15-19); Cristo é o fundamento e nós somos as pedras vivas unidas ao fundamento (1Pe. 2:4-5); e o casamento entre o marido e a mulher aponta derradeiramente para a união entre Cristo e os crentes (Ef. 5:25-31). Além dessas imagens bíblicas, a específica frase “em Cristo” ocorre umas vinte e cinco vezes nas epístolas de Paulo. Podemos dizer que a união com Cristo ocasiona todos os benefícios de nossa redenção. A questão 69 do Catecismo Maior de Westminster, por exemplo, pergunta: “Que é a comunhão em graça que os membros da Igreja invisível têm com Cristo?” E então responde: “A comunhão em graça que os membros da igreja invisível têm com Cristo é a participação da virtude da sua mediação, na justificação, adoção, santificação e tudo o que nesta vida manifesta a união com Ele .”

A resposta do Catecismo Maior é facilmente verificada a partir da Escritura. Por exemplo, como vimos acima, somos escolhidos “nele” antes da fundação do mundo (Ef. 1:4). Paulo escreve à igreja em Roma que “não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8:1), que é outra maneira de dizer que aqueles que estão unidos a Cristo são justificados. Qualquer um que está “em Cristo Jesus” é um filho de Deus através da fé (Gl. 3:26). Além disso, se os Cristãos habitam em Cristo, eles dão muito fruto; eles produzirão boas obras (João 15:5). Somente Cristo nos dá nossa salvação, quer seja considerado como um todo ou como diferentes benefícios individuais, como a justificação e a santificação.

Qual é a significância do fato que os crentes são unidos a Cristo? Teólogos reformados têm argumentado historicamente que há diversos aspectos diferentes da nossa união com Cristo. Por exemplo, somos unidos a Cristo em termos de nossa eleição “nele.” Não fomos habitados pelo Espírito Santo neste ponto e unidos a Cristo pela fé porque nem sequer existíamos exceto na mente de Deus. Todavia, somos unidos a Cristo em termos da decisão do Pai de eleger pecadores caídos individuais e redimi-los através de seu Filho. Consequentemente, nesse sentido, somos unidos a Cristo no decreto da eleição.

Há um segundo aspecto da união com Cristo, que alguns chamaram de nossa união representativa ou federal. No ministério terreno de Cristo, tudo o que ele fez, ele fez em nome de sua noiva, a igreja. Quando ele foi batizado no Rio Jordão, que era um batismo de arrependimento, ele não estava confessando pecado pessoal, visto que era um cordeiro sem mácula — ele não tinha pecado (Marcos 1:4; 1 Pedro 1:19). Ao invés disso, como representante do povo, ele estava agindo em nome do povo. Consequentemente, não apenas em seu batismo, mas em seu cumprimento de toda vírgula e til da lei, em seu perfeito sofrimento, sua ressurreição e sua ascensão — tudo o que Cristo fez foi em nome de sua noiva. Os perfeitos sofrimento e guardar a lei de Cristo se tornam nossos através da fé — eles são imputados, ou creditados, a nós. A ressurreição de Cristo é representativa, em que conforme a cabeça é levantada, também o corpo, a igreja, será levantado precisamente da mesma maneira. Agora, como Cristo se assenta em sessão real à destra de seu Pai celestial, nós estamos assentados com Cristo e governamos com ele nos lugares celestiais (Ef. 1:20-21).

Um terceiro aspecto de nossa união com Cristo é o que alguns chamam de união mística ou pessoal. Esta é a habitação pessoal do crente pela fé através da pessoa e da obra do Espírito Santo. Várias passagens falam dessa dimensão de nossa união com Cristo, incluindo Efésios 2, onde o apóstolo Paulo explica que somos membros da casa de Deus, edificada na fundação dos apóstolos e profetas, com Cristo como a pedra angular. Sobre esse grandioso e definitivo templo, Paulo escreve que nós crescemos “para santuário dedicado ao Senhor,” e nele nós estamos “juntamente sendo edificados para habitação de Deus no Espírito” (v. 22).

Durante a cerimônia de casamento, quando um homem e uma mulher ficam diante do ministro, eles são dois indivíduos separados. No fim da cerimônia, contudo, eles são declarados “marido e mulher.” São unidos; e ambos se tornam “uma só carne” (Gn. 2:7; Ef. 5:25-31). A propriedade de cada indivíduo se torna a propriedade de ambos. Mas em nossa união matrimonial com Cristo, a gloriosa troca é muito maior. Nosso pecado e nossa culpa são imputados a Cristo, e sua perfeita guarda da lei e seu sofrimento são imputados a nós — o que é nosso se torna dele, e o que é dele se torna nosso. Por causa da união representativa que compartilhamos com Cristo, o Pai não mais olha para nós como pecaminosos, mas vê apenas a justiça e a santidade de Cristo.

A Questão 60 do Catecismo de Heidelberg pergunta: “Como você é justo diante de Deus?” O catecismo, então, dá uma resposta muito tranquilizante:

Apenas por uma genuína fé em Jesus Cristo; isto é, embora minha consciência me acuse de que pequei gravemente contra todos os mandamentos de Deus e não guardei nenhum deles, e ainda sou inclinado a todo mal, ainda assim Deus, sem qualquer mérito meu, por pura graça, concede e imputa a mim as perfeitas satisfação, justiça e santidade de Cristo, como se eu nunca tivesse tido ou cometido qualquer pecado, e como se eu mesmo tivesse cumprido toda a obediência que Cristo transmitiu a mim; se eu apenas aceitar tal benefício com um coração crente.

E quanto a santidade pessoal e boas obras? Elas não são mais necessárias? Os crentes estão livres da necessidade de fazer boas obras por causa de sua justificação? Eles são livres para pecar?

Estas são perguntas que Paulo enfrentou após falar das glórias de nossa justificação pela graça somente, através da fé somente e em Cristo somente em Romanos 3 a 5. Paulo responde com seu conhecido e enfático “De maneira nenhuma!” à pergunta de se os cristãos são livres para pecar por causa de sua justificação. A realidade para qual ele aponta como a razão pela qual não podemos mais viver em pecado, é nossa união com Cristo:

Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. (Rm. 6:4-5)

Em outras palavras, em nossa união com Cristo, recebemos não apenas o benefício da justificação, mas também temos o benefício da santificação. Muitas pessoas pensam que sua santificação, sua transformação espiritual e conformação à imagem santa de Cristo, é simplesmente uma questão de tentar com mais vontade, vestir toda sua armadura moral — de decidir ser mais santo. Contudo, uma coisa que deveria estar clara é que Jesus claramente nos diz que a única maneira de produzirmos fruto é se habitarmos nele: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15:5).

Devemos perceber que não devemos viver para a vida, mas a partir dela — fomos crucificados com Cristo e não somos mais nós que vivemos, mas Cristo que vive em nós (Gl. 2:20). Cristãos têm a grande certeza de que quando somos unidos a Cristo pela fé, nós recebemos a Cristo plenamente e todos os benefícios da redenção, não apenas alguns deles.

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Por J.V. Fesko. Extraído do site http://www.ligonier.org/ © 2013 Ligonier Ministries. Original: Union with Christ in Paul’s Epistles
Este artigo faz parte da edição de Fevereiro de 2013 da revista Tabletalk sobre “União com Cristo”.
Tradução: Alan Cristie. Editora Fiel © Todos os direitos reservados.
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Fonte: Voltemos ao Evangelho

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