Via: Pérolas do Evangelho
Este blog tem o objetivo específico de propagação do autêntico evangelho, relegando as fábulas e a mundanização da mensagem bendita de nosso Senhor Jesus Cristo, e combater frontalmente as doutrinas disseminadas pelos movimentos emergentes e pelo pós-modernismo. Retornemos à mensagem pregada por Cristo e pelos apóstolos e rejeitemos toda prática exercida no meio cristão, a qual geralmente deriva da culturalização do evangelho ou mesmo da influência de outras religiões ou do ecumenismo.
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quarta-feira, 31 de julho de 2013
sábado, 27 de julho de 2013
Solus Christus, não solus papa!
Por pr. Alan Kleber
“Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”
Com essas palavras o papa Francisco, Bispo de Roma, impactou o povo brasileiro com seu primeiro discurso no Brasil, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude (JMJ2013). Até mesmo os evangélicos contagiados com tanta empolgação fomentada pela imprensa, espalharam sua célebre frase nas redes sociais, “twitando” ou postando no Facebook. De fato, se tomássemos apenas esta única afirmação do papa poderíamos acreditar que para ele, somente Cristo (i.e, Solus Christus) é o único, suficiente, soberano e primaz cabeça da Igreja, certo?
O problema é que o papado não é somente não cristão, mas também abertamente anti- cristão. Historicamente, os papas ensinam aos seus fiéis que eles podem com suas obras chegar ao Céu porque o papa, o vigário de Cristo na terra, entende a Escritura para ensinar a verdade acerca da fé e prática. Para ele Cristo simplesmente não é suficiente. Os homens devem fazer sua parte também. Veja por exemplo, o dogma romano encontrado nas seções 10 a12 sobre a doutrina da justificação do Concílio de Trento:
Cân. 10. Se alguém disser que os homens são justificados sem a justiça de Cristo, pela qual ele mereceu por nós; ou que é por ela mesma que eles são formalmente justos — seja excomungado.
Cân. 11. Se alguém disser que os homens são justificados ou só pela imputação da justiça de Cristo, ou só pela remissão dos pecados, excluídas a graça e a caridade que o Espírito Santo infunde em seus corações e neles inerem; ou também que a graça pela qual somos justificados é somente um favor de Deus — seja excomungado.
Cân. 12. Se alguém disser que a fé que justifica não é outra coisa, senão uma confiança na divina misericórdia, que perdoa os pecados por causa de Cristo ou que é só por esta confiança que somos justificados — seja excomungado.
Seria Cristo ou o papa Francisco o verdadeiro Cabeça da Igreja?
Ao aceitar o pontificado, o papa Francisco reivindicou ser o Cabeça da Igreja. Sua teologia romana é consistente com a doutrina romana. Os Concílios da Igreja de Roma ensinam que:
- A “jurisdição sobre a igreja universal de Deus” pertence ao papa (Vaticano I, Capitulo 1);
- Que essa autoridade deve “permanecer ininterruptamente na Igreja” e que ele, o papa, “possui o primado sobre todo o mundo… e [é] o verdadeiro vigário de Cristo na Terra” (Vaticano I, caps 2 e 3);
- Que o Papa é a “fonte e fundamento visíveis para a unidade na fé e comunhão” Também se diz que “em virtude de seu oficio, isto é, como Vigário de Cristo e pastor de toda a igreja, o Pontífice Romano tem poder completo e supremo e universal sobre a Igreja” (Vaticano II).
Mas não para por aí
Você lembra do problema das indulgências que levou Martinho Lutero a publicar suas famosas 95 Teses contra os abusos papais? Pois bem, leia um trecho abaixo do Decreto onde o papa Francisco concede o “dom das indulgências” aos participantes da JMJ2013:
“O O Santo Padre Francisco, desejando que os jovens, em união com as finalidades espirituais do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, possam obter os esperados frutos de santificação através da «XVIII Jornada Mundial da Juventude», … manifestando o coração materno da Igreja, do Tesouro das satisfações de nosso Senhor Jesus Cristo, da Bem-Aventurada Virgem Maria e de todos os Santos, concordou que os jovens e todos os fiéis adequadamente preparados pudessem usufruir do dom das Indulgências”.
“a. — concede-se a Indulgência plenária, que pode ser obtida uma vez por dia nas habituais condições (confissão sacramental, comunhão eucarística e oração segundo a intenção do Sumo Pontífice) e também aplicadas como sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, para os fiéis verdadeiramente arrependidos e contritos, que com devoção participarem nos ritos sagrados e nos exercícios piedosos que se realizarão no Rio de Janeiro”.
Segundo a teologia romana, as indulgências são: "… a remissão diante de Deus da pena temporal merecida pelos pecados, já perdoados quanto à culpa, que o fiel, em determinadas condições, adquire para si mesmo ou para os defuntos, mediante o ministério da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui o tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos" (Catecismo da ICAR, n. 312).
Como vimos, Roma não mudou. Seus anátemas contra todo aquele que crê em Cristo como seu único e suficiente Salvador permanecem. A salvação somente pela graça mediante a fé (Ef 2.8,9) é trocada pelo esforço humano, por obras meritórias. O Senhorio do Rei dos reis continua sendo usurpado pelo papado. Logo, a Palavra de Cristo, infalível e verdadeira permanence substituída por dogmas, tradição e superstição humanas.
Conclusão
Quanto a nós, protestantes, cristãos herdeiros da Reforma, resta-nos lembrar o fundamento da nossa fé e doutrina, vida e piedade, alicerçado no fundamento dos apóstolos e profetas, tendo Jesus como sua pedra fundamental. Concluo com esta última citação de algumas das Teses de Lutero:
32 - Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
33 - Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus (33a tese).
34 - Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.
35 - Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.
36 - Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
37 - Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.
Solus Christus,
Fonte de pesquisa:
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Fonte: E a Bíblia com isso?
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Carta ao meu filho sobre jugo desigual
Por Josafá Vasconcelos
Esta carta foi por mim escrita e dirigida ao meu filho Samuel, que anos atrás se envolveu emocionalmente com uma jovem descrente. Na época minha esposa e eu ficamos muito preocupados e iniciamos uma batalha pela salvação de sua alma. Graças ao Senhor ele considerou a Palavra de Deus, e, por Sua misericórdia, libertou o meu amado filho de cair na “linsonja da mulher estranha”. Hoje ele está casado com Helen, uma serva de Deus, com quem tem uma mimosa filhinha da aliança, Sara.
O propósito de publicar esta carta é advertir aos jovens que estão no mesmo envolvimento emocional, sendo seduzidos por Belial até que a “flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se apressa para o laço, sem saber que isto poderá lhe custar a vida”. Meu desejo também é de encorajá-los a ouvirem a voz da Sabedoria ― o Senhor Jesus.
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Meu querido filho Samuel, meu primogênito, consagrado ao Senhor. Sua mãe e eu o amamos muito e nutrimos grande esperança de vê-lo feliz e abençoado, principalmente sendo útil na causa do Mestre. Temos orado incessantemente por você, principalmente agora que você está passando por essa provação. Como seu pai e também como seu pastor, quero, com muito amor, mas também firmeza, lhe trazer, em nome do Senhor, uma exortação bíblica, que espero possa lhe ajudar a tomar a decisão certa neste caso.
Meu filho, Deus propôs, desde a eternidade, escolher um povo para si, resgatá-lo e separá-lo dos demais povos, para que fosse exclusivamente seu. Estabeleceu com ele uma aliança para se relacionar e lhe pôs um selo específico (uma marca) para distingui-lo e proibiu terminantemente o relacionamento mais íntimo de qualquer dos seus filhos com os demais pecadores. Desejo lhe mostrar na Escritura, desde o Éden, este propósito da parte do Senhor. Deus prometeu um salvador a Adão e a Eva, bem como a toda sua descendência (Gn. 3:15). Caim matou Abel, e não foi contado como pertencente à Aliança. Por isso a descendência chamada santa, ou dos filhos de Deus, começou no capitulo 5 com Sete: “Viveu Adão cento e trinta anos e gerou um filho à sua semelhança e conforme a sua imagem e chamou-lhe Sete” (Gn. 5:3). Caim não foi considerado e Abel já estava com Senhor.
No capitulo 6, encontramos a primeira ameaça, que trouxe desgraça e destruição: “Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus, que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si, mulheres...” (Gn. 6:1-2). Essa contaminação provocou a ira de Deus que chegou a se arrepender de ter feito o homem e destruiu a maioria deles no dilúvio. O casamento misto, reduziu o número dos participantes da aliança a 8 pessoas! De Noé, Deus escolheu Sem e assim retomou a linhagem santa até o Abraão, quando, de um modo mais claro, revelou sua vontade de manter um povo distinto na terra, para o louvor de sua glória, chamando Abraão e estabelecendo uma aliança com ele. Quando Isaque, seu filho, alcançou a idade adulta, Abraão mandou seu servo buscar, junto aos seus parentes, linhagem de Sem, mulher para ser esposa do seu filho. Abraão foi tão enfático em insistir que só poderia ser uma jovem de sua parentela que fez o servo jurar solenemente colocando a mão debaixo de sua coxa (Gn. 24:1-9). Por quê? Porque Abraão conhecia os propósitos do Senhor e os terríveis prejuízos que viriam caso a linhagem santa fosse contaminada.
O mesmo sucedeu quando Jacó e Esaú estavam na idade de se casarem. Rebeca e certamente seu pai Isaque, estavam tristes e preocupados com a possibilidade de seus filhos contaminarem a aliança com o casamento misto, veja: (Gn. 27:46 e 28:1-9). Jacó obedeceu, mas Esaú não, e foi deixado de fora. Outra ameaça surge no cap.34, do mesmo livro, com o estupro de Diná. Foi proposta uma ”conversão” forjada, que seria de grave conseqüência para o povo todo, e Deus usou o ódio dos irmãos de Diná, para destruir aqueles homens de Siquém “circuncidados”.
Muitos anos se passaram até que Satanás voltasse a ameaçar a pureza da Aliança e o povo de Deus com o pecado do relacionamento misto. Agora o povo de Deus estava atravessando o deserto. Balaque, rei dos moabitas, temendo a Israel, contratou Balaão para maldiçoar o povo, mas Balaão embora no íntimo quisesse, não conseguiu. Foi então que, inspirado por Satanás, ensinou a Balaque uma fórmula maligna e infalível: o relacionamento misto (Nm 31:15-16). Isso resultou num grande juízo da parte de Deus contra o povo e morreram 24.000 pessoas vitimadas por uma terrível praga, que só cessou quando Finéias transpassou com sua lança um israelita que chorava agarrado à sua namorada estrangeira (Nm 24 — leia todo). Temos mais tarde o caso de Sansão. Deus se utilizou das loucuras de Sansão para livrar Israel, mas isto não o isenta da culpa de ter se casado e depois se relacionado com mulheres que não eram da aliança.
Quando quis se casar com uma filistéia, seus pais o recriminaram, (Juízes 14:1-3) porque sabiam que esta desobediência cheirava ruína e morte. Agora a Escritura expõem a triste experiência de Salomão, um jovem rei, que contou com o apoio de seu pai que o aconselhou (I Reis 2 :1-4) e o instruiu (Prov. 4). Tinha a melhor das intenções, pediu sabedoria e recebeu, mas arruinou-se por causa do pecado do casamento misto. O capitulo 11 de I Reis diz: “Ora, além da filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônita e hetéias, mulheres das nações de que havia o Senhor dito a Israel: não caseis com elas, nem casem elas convosco, pois vos perverteriam o coração, para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou Salomão pelo amor”.
Após o exílio, depois de grande sofrimento, em fim o povo retorna para sua terra, por mercê de Deus. Mas Esdras descobre que algo estava errado e a ameaça estava de novo rondando o povo, era o pecado do casamento misto. Sob a liderança de Esdras o sacerdote, o povo foi exortado fortemente e uma grande consternação e arrependimento tomou conta dos que haviam voltado a Sião por terem se envolvido em casamento misto. No capitulo 10 de Esdras, vemos a descrição desse fato e do drama que se instalou na difícil tarefa de ter que despedir as mulheres estrangeiras e seus filhos.
Neemias, servo do Senhor, na mesma ocasião, como governador, usando de sua autoridade, tratou com severidade os envolvidos. “Contendi com eles e os amaldiçoei e espanquei alguns deles e lhes arranquei os cabelos...” e os admoestou relembrando-lhes o que acontecera com Salomão, cujas mulheres estrangeiras o fizeram cair em pecado. (Ne. 13:21-27) No Novo Testamento, nada mudou a este respeito, a aliança é a mesma e os seus termos também. Em Cristo fomos chamados para debaixo da aliança, para dentro da comunidade de Israel (Ef 2:12-13). Somos agora o povo santo de Deus (I Pe. 2:9-10), seus filhos e, o mesmo que Ele requereu deles no Velho Testamento, requer agora de nós: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulo...que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união do crente com o incrédulo?” (II Co. 6:14-18). Casamento, somente “no Senhor” (I Co. 7:39). Por isso, meu filho, não podemos sequer admitir um envolvimento, ainda que seja apenas sentimental, de um filho da aliança, com uma moça ímpia, filha de Belial. Lembre-se que para o Senhor Jesus, não é pecado somente aquilo que é externo, mas o que já existe no coração (Mt. 5: 27-28).
Meu filho, por quem tenho derramado lágrimas, intercedendo e suplicando todos os dias diante do trono da graça. Sei que esse sentimento é involuntário, e você não é responsável por ele, mas o ter facilitado para que ele surgisse, e visse a nutri-lo e protegido. Isso é pecado e entristecesse a Deus. É preciso ser mais duro contra o pecado, não acaricie aquilo que corre como câncer no seu coração e que no fim lhe leva à morte. Rogue a Deus e implore para que Ele extirpe do seu coração este sentimento.
Tome providências severas contra ele. Corte todos os meios para que ele seja nutrido. Faça exatamente o que diz o texto: “retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor” (II Co. 6:17,18). Eu sei que dói, mas o Senhor sofreu muito mais por você. Sei que você tem tentado resistir, mas... “Ora na vossa luta contra o pecado ainda não resististe até o sangue” (Hb 12:4). Estamos orando por você, sua mãe e eu, “na expectativa que Deus lhe conceda, não só o arrependimento... mas também o retorno à sensatez, livrando-o dos laços do diabo...” (II Tim. 2:26).
quinta-feira, 18 de julho de 2013
A história, a tradição e o exemplo que se deseja esquecidos
Por Márcio Jones
Referenciais são de extrema relevância. São elementos componentes de nossa visão de mundo, das lentes por meio das quais enxergamos as coisas e nos posicionamos a respeito daquilo que nos é apresentado. Portanto, nossos conceitos e ações advêm desses vetores. Nesse quesito, há contextos em que o subjetivismo é a linha reinante, o filtro. A experiência proveniente de vivências anteriores torna-se o supremo tribunal de recursos. São invocadas como dignas de absoluto crédito e aceitação, como se fossem dotadas de autoridade inquestionável, elevando-se à categoria de valores objetivos. E nessa toada, a inovação é sempre melhor e vem para suceder o que passou.
No que toca ao cristianismo em seus moldes modernos, há peculiaridades que merecem atenção. Particularmente, é interessante como a experiência subjetiva adquiriu relevância desde algum tempo, sobretudo em desfavor da história da igreja cristã e da contribuição deixada por tantos quantos palmilharam esse estreito caminho antes dos cristãos da atual geração. Há quem detenha uma maneira tal de pensar que diga: "O Espírito foi dado a mim, logo entendo ser plenamente autossuficiente no entendimento da Bíblia", como se o Espírito Santo fosse privilégio exclusivo dos cristãos do século XXI ou mesmo o cristianismo tivesse nascido em nossos dias. Vejo nisso um quê de arrogância e prepotência, e até mesmo ignorância bíblica. Será que a Escritura nos orienta a, como igreja cristã, viver uma história fragmentada, descontínua, geração após geração, desconhecendo o legado dos mais antigos e sendo mestres de nós mesmos? Será que, como diz o professor de História da Igreja Cristã Juliano Heyse, ao citar o exemplo da garotinha que, quando incumbida de falar acerca da história da igreja, começa sua fala citando a igreja onde congrega, o prédio em que são realizadas as reuniões semanais, e que teve início com o pastor "fulano" no ano tal. Não pretendo conferir à tradição status normativo, como fazem os romanistas. Entretanto, chamo à atenção para aspectos os quais muitos raramente costumamos examinar.
Podemos aprender da história? Esse foi o tema da palestra proferida por Martyn Lloyd-Jones, no encerramento da Conferência Puritana no ano de 1969. Disse o Doutor: "Talvez não exista nada que tenha denegrido tanto a glória de Deus como a história do Seu povo na Igreja. Por isso, vou tratar deste assunto sobre aprender da história. O famoso dito de Hegel faz-nos lembrar que 'O que aprendemos da história é que não aprendemos nada da história'. Ora, no que se refere ao mundo secular, essa é uma verdade indubitável. A história da raça humana mostra isso claramente. A humanidade, em sua loucura e estupidez, sempre repete os mesmo erros. Não aprende, e se nega a aprender. Mas não aceito isso como sendo próprio do cristão. O meu ponto de vista é que o cristão deve aprender da história, que, por ser cristão, seu dever é fazer isso, e deve animar-se a fazê-lo". (...) o meu argumento é que, para nós, é sempre essencial suplementar a nossa leitura teológica com a leitura da história da igreja. (...) Senão, corremos o perigo de nos tornar abstratos, teóricos e acadêmicos em nossa visão da verdade; e, deixando de relacioná-la com os aspectos práticos da vida diária, logo estaremos em dificuldade".
E qual seria a mais franca objeção a que levássemos em conta a história, a tradição e o exemplo? Penso que é a ideia segundo a qual o passado nada tem a nos ensinar. Como quando deparei, num fórum virtual, com um cristão internauta ávido em busca de métodos inovadores para aplicar nos cultos de jovens. Uma das resposta que se lhe apresentou, a mais esdrúxula por sinal, era de que ele deveria empregar ilimitadamente a criatividade, sob o pretexto da "liberdade no Espírito" e de que ser cristão é viver em "novidade de vida". Penso que se nos inteirássemos um pouco mais da história da Igreja e dos passos dos antigos, não buscaríamos meios para entreter a Igreja, mas lhe apresentaríamos o evangelho, em toda sua antiguidade e atualidade (Rm 1.2). Igualmente, se transitássemos pela história da igreja notaríamos que não há nada novo debaixo do sol e que os modismos que surgem atualmente não são tão inéditos assim, mas uma nova roupagem de práticas antigas, que, por exemplo, eram corriqueiras antes da Reforma ou logo após esta, quando então alguns homens resolveram voltar até o primeiro século, até o Novo Testamento, voltar à Escritura.
O que nos diz a Escritura? Quando escreveu a primeira epístola, Paulo registrou: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1 Co 11.1). Seria o mesmo que dizer, imitem-me no que me assemelho a Cristo, ou, como disse Spurgeon: "Não tenham nada a ver comigo onde não tenho nada a ver com Cristo". Seria, então, um absurdo aprender a partir da conduta de outros cristãos piedosos naquilo em que eles se parecessem com o Mestre? Obviamente, não! Vejamos que o exemplo não é absoluto e irrestrito, contudo se limita ao proceder de Cristo. Notemos, ainda, que o ensino de Paulo estava calcado na transmissão da tradição. A tradição era um termo usado pelos rabinos que identificava seu conjunto de ensinamentos os quais eram transmitidos a seus alunos. A fé cristã é construída com base nas tradições ou ensinos de Cristo e de seus apóstolos (1 Co 11.2; 15.1; Ef 2.20). Paulo transmitiu tradições práticas e doutrinárias dignas de crédito, tanto oralmente como por meio de epístolas (Rm 6.17; 1 Co 11.2,23; 15.3; 2 Tm 1.13), no entanto apenas suas palavras escritas foram preservadas para nós nas Sagradas Escrituras. Por conseguinte, ninguém pode reivindicar ser detentor da tradição oral transmitida pelo apóstolo.
Assim, não só é prudente, mas altamente recomendável que, como cristãos, não vivamos como se fôssemos pioneiros, desbravadores. Existe um legado. Se compreendo que o Espírito ilumina-me a mente, hoje, para que haja a devida compreensão das Escrituras, bem como viva, em consequência, de maneira sóbria, justa e piedosa, como posso entender — ou viver como se assim entendesse —, de maneira diversa, que o mesmo Espírito não iluminou e conduziu a outros que me precederam? E, desse modo, o entendimento global a que chego deve-se alinhar à de crentes piedosos e ortodoxos ao longo da história. Não se trata de outro momento ou outros tempos. Referimo-nos a uma mensagem antiga, entregue aos santos de uma vez por todas (Jd 3). Não há adendos, acréscimos. É até mesmo uma atitude de humildade aprender de homens fiéis e zelosos pela verdade (1 Ts 1.6; 2 Tm 2.2).
Soli Deo Gloria.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
Uma cultura fascinada pela juventude
Por Stephen J. Nichols
Talvez isso tenha começado antes dos anos 50 e 60, mas essas duas décadas parecem ter marcado o aumento do fascínio pela juventude na cultura americana. A famosa frase que celebra o espírito jovem, quase sempre atribuída de forma equivocada a James Dean, declara: "Viva rápido, morra jovem e deixe para trás um cadáver bonito".
A música popular, o barômetro da cultura popular, acompanhou essa tendência. Quase todas as bandas de heavy metal dos anos 80 e 90 tinham aquela conhecida melodia sobre jovens heróis caindo em um "esplendor de glória" [1]. Outras referências da música pop enfatizam o poder invencível da juventude. Rod Stewart canta sobre ser "para sempre jovem" ("Forever Young"). Em seu hit de sucesso "We Are Young" ("Somos Jovens"), o grupo contemporâneo Fun declara que essa juventude vai "incendiar o mundo". O narrador sentado no banco de um bar em "Glory Days" ("Dias de Glória"), de Bruce Springsteen, afoga as mágoas da sua meia-idade ao recontar suas façanhas e triunfos vividas no ensino médio. Nenhum de nós quer reviver os momentos difíceis do colégio, mas quem dentre nós não acolhe desejos secretos de ser jovem de novo e aparentemente capaz de conquistar o mundo?
As inclinações sutis, e as não tão sutis, à idolatria da juventude manifestam-se em três áreas. A primeira é uma exaltação dos jovens sobre os idosos. Isso inverte o paradigma bíblico. A segunda é uma visão do ser humano que valoriza a beleza externa (não deve ser confundida com a verdadeira beleza e estética), a força e a realização humana. Pense na líder da equipe de torcida e no famoso jogador de futebol. O terceiro é o domínio do mercado pelo grupo demográfico jovem. Isto é, a fim de ser relevante e bem sucedido, deve-se apelar para a juventude ou para o gosto dos jovens. Essas manifestações de nossa cultura fascinada pela juventude merecem um olhar mais de perto.
A tendência de exaltar a juventude e deixar de lado os mais velhos decorre de um problema mais profundo que pode ser resumido na expressão "O mais novo é melhor". Nós celebramos o novo e o inovador ao passo que menosprezamos o passado e a tradição. Há uma vitalidade atraente na juventude e nas ideias novas, mas isso não significa que não há sabedoria a ser encontrada no passado. É um sinal de arrogância pensar que se pode encarar a vida sem a sabedoria daqueles que vieram antes de nós. Há algo na juventude que faz com que os jovens pensem que são imunes aos erros e equívocos daqueles que lhes antecederam. Todos nós superestimamos a nós mesmos e as nossas capacidades. Simplificando, precisamos da sabedoria advinda do passado e dos mais velhos.
A idolatria da juventude infiltra-se até mesmo na igreja. Uma das maneiras de vermos isso é através da ênfase que é dada aos grupos de jovens da igreja. Curiosamente, Jonathan Edwards, em sua carta a Deborah Hathaway, conhecida como "Carta a uma jovem convertida", a encorajou a se juntar a outros jovens na igreja para orarem juntos e discutirem sobre seus progressos na santificação, como uma forma de encorajar um ao outro. Resumindo, ele a estava chamando para começar um grupo de jovens. Os grupos de jovens podem servir um propósito significativo e podem ser um ministério importante. No entanto, ao fazer isso, eles podem estar separando os jovens das outras faixas etárias da igreja. A igreja precisa adorar, aprender e orar junta, velhos e jovens lado a lado. A cultura tenta empurrar o velho para fora. A igreja não pode fazer isso.
Visto que precisamos da sabedoria dos idosos no corpo de Cristo, precisamos também da sabedoria do passado. O mais novo nem sempre é melhor. Às vezes é pior; às vezes é errado. Como igreja, somos um povo com um passado. O Espírito Santo não foi dado exclusivamente à igreja do século XXI. Ignoramos ou desprezamos o passado para o nosso próprio prejuízo.
O caminho para sair da escravidão desta celebração indevida da juventude é promover uma comunidade verdadeiramente diversificada em nossas casas e em nossas igrejas. As lacunas entre as gerações podem ser desagradáveis e se tornar barreiras para que ambos os lados tenham uma comunhão genuína e autêntica. No entanto, Deus projetou a Sua Igreja de tal forma que precisamos uns dos outros. Paulo ordena especificamente a Timóteo que faça com que os mais velhos ensinem os mais jovens (Tito 2:1-4). Saímos perdendo quando pensamos que não temos nada para aprender com outras pessoas que estão em diferentes fases da vida. A igreja atual também perde quando pensa que não tem nada a aprender com a igreja de ontem.
Os mais velhos podem sentir-se intimidados na tentativa de alcançar os mais jovens, porém os mais velhos devem tomar a iniciativa. Os jovens podem tirar os seus fones de ouvido e olhar além dos seus iPods. Filhos e netos precisam ouvir as histórias de seus pais e avós.
A segunda manifestação da nossa cultura fascinada pela juventude é uma visão distorcida da humanidade. A nossa cultura determina o valor de um ser humano com base na aparência dele ou dela. Pais, professores, pastores de jovens e pastores sabem como a imagem corporal pode ser absolutamente devastadora para a juventude de hoje. Sabemos também que, teologicamente, a dignidade humana e, portanto, o valor humano origina-se em nossa criação à imagem de Deus. Nossa cultura obcecada pela juventude usa uma medida imperfeita para determinar o valor humano.
Por outro lado, também perdemos de vista a fragilidade e a depravação humana. Nós não somos fortes. Isaías nos lembra: "Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças". (Isaías. 40:30-31a). O tema da força de Deus manifestada em nossas fraquezas reverbera por meio dos escritos de Paulo. Todavia não vamos conseguir ouvi-lo, se estivermos focados em imagens de força e invencibilidade da juventude.
Precisamos ajudar os jovens a enxergarem que o valor deles advém do fato de serem feitos à imagem do Criador e do Redentor. Na cultura de hoje, está cada vez mais difícil passar pela adolescência de forma saudável. Nossos jovens estão rodeados por imagens do belo e do magro, do jovem e do lindo. As imagens de perfeição os bombardeiam. Meu amigo Walt Mueller, autor e presidente do Center for Parent/Youth Understanding [Centro de estudos para Pais e Jovens], tem pesquisado a indústria de publicidade por anos. Sua conclusão? Imagens evidentes e sutis passam diante dos olhos de um adolescente comum pelo menos centenas de vezes por semana. Adicione a isso a mensagem de imagem corporal que chega, em grande parte, através da música pop e do cinema, e você verá o desafio. A cultura jovem precisa da ajuda da igreja para pensar biblicamente sobre uma visão saudável e que honre a Deus de si mesmo e dos outros.
A terceira manifestação da cultura jovem tem a ver com a forma como esse grupo demográfico impulsiona o mercado. O motor econômico que dirige grande parte da cultura popular, em termos de filmes e música, pelo menos, é o grupo com recursos desregrados - adolescentes e jovens aos vinte e poucos anos. Grupos de jovens e até mesmo igrejas que buscam ser "bem sucedidos", estão correndo para acompanhar o ritmo deles.
A escritora sempre perspicaz, Flannery O'Connor, do sul dos Estados Unidos, avaliou, uma vez, em um debate sobre o uso de um romance polêmico nas salas de aula das escolas públicas. Ao invés de debater os méritos ou deméritos específicos do livro, O'Connor levantou uma questão mais profunda. Ela observou que os defensores do livro formaram seu argumento, alegando que o livro era atual e da moda, razões pelas quais os jovens se interessavam por ele. "Por que não atender a vontades deles?" foi o argumento. O'Connor por sua vez formou seu argumento pela confiança no cânone literário, e não na ficção popular. Em seguida, ela partiu para o ataque em suas frases finais: "E se o aluno descobrir que aquele estilo não é do seu gosto? Bem, isso é lamentável. Muito lamentável. Seu gosto não deve ser consultado, está sendo formado", ("A ficção é uma matéria com uma história-ela deve assim ser ensinada").
Alguns podem rejeitar o argumento de O'Connor, considerando-o como um apelo elitista. No entanto, ela mostra uma razão justa. Há o que achamos necessário e há o que realmente é necessário. Às vezes algumas décadas são necessárias para ver a diferença.
O sociólogo Christian Smith criou a frase deísmo terapêutico moralista para descrever a visão religiosa proeminente da juventude americana. Sua descrição é plausível, mas como devemos responder? Simplesmente satisfazer a esses gostos é ceder. Ao fazermos isso, perde-se o evangelho e as exigências da vida cristã.
Uma daquela baladas de rock à qual me referi anteriormente ecoa repetidas vezes uma frase assombrosa: "Dê-me algo para acreditar". Ela conta uma história de busca, mas que encontra apenas decepção e desilusão. Contudo, persiste o desejo de acreditar em alguma coisa. Os sociólogos dizem que a cultura da juventude contemporânea valoriza a autenticidade. Nós alcançaremos melhor a cultura jovem se não cedermos à pressão ou fingirmos estar na moda - de qualquer maneira, é muito difícil fingir estar na moda. O respeito de uma pessoa pela outra cresce bastante quando uma simplesmente fala e vive a verdade em amor.
A cultura jovem atual enfrenta um grande problema de ansiedade. Em quase todos os níveis, um futuro incerto nos espera no horizonte. Mas essas ansiedades são apenas os sintomas de um problema real, sombras da ansiedade que a humanidade enfrenta por causa da alienação. Nosso pecado nos separa de Deus. E nós precisamos de alguém em quem acreditar. Nenhum de nós, jovem ou velho, precisa de uma religião terapêutica. Todos nós precisamos do evangelho. E todos nós precisamos de uma igreja de jovens e idosos - entre outras idades - que anuncie e viva o evangelho.
1 - N.E.: Referência a música "blaze of glory" de Jon Bon Jovi.
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Dr. Stephen J. Nichols é professor parceiro do Ministério Ligonier e professor de teologia e história da igreja na Lancaster Bible College em Lancaster, Pennsylvania. Ele é autor do livro Heaven on Earth: Capturing Jonathan Edwards's Vision of Living in Between.
Fonte: Editora Fiel
Meditação I
Por Márcio Jones
Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago [...] (Jd 1a)
Eis aqui a primeira parte do primeiro versículo da saudação de Judas, não o Iscariotes, contida na epístola que leva seu nome. É interessante notar que o autor guardava laços de consanguinidade com Jesus, sendo, pois, seu irmão (Mt 13.55; Mc 6.3). Assim, destaca-se nesse fragmento o fato de que, ainda que Judas pudesse arrogar para si o posto de 'o irmão do Senhor', quem sabe objetivando maior aceitação e credibilidade, não o fez. Antes, Judas nos transmite que o título de um servo (δουλος = escravo) de Cristo é sua antítese, isto é, não ter título algum, a não ser escravo do Senhor, desprovido de suas próprias vontades e desígnios.
Lembro-me de certa feita em que trabalhávamos, um amigo e eu, em meados de 2006, num congresso de ministros sediado por um igreja neopentecostal de que fazíamos parte. Estava este amigo incumbido de guardar a portaria de acesso à área restrita da congregação, onde se realizavam os workshops. Havia autorização para ingresso nessa localidade apenas aos que estivessem munidos de credenciais específicas, em sua maioria pastores. Num dado momento, achegou-se até ele um indivíduo de uns quarenta anos, sem qualquer identificação, e manifestou desejo de entrar. Ao que, prontamente, este amigo lhe disse: "Para ingresso, é necessária credencial, irmão". Quisera ele não ter se dirigido ao referido indivíduo como 'irmão', pois o tal ficou fora de si, afirmando repetidas vezes não ser 'irmão', mas sim 'pastor'. Seguidamente, o irmão esquentadinho procurou um dos pastores da igreja e lhe relatou a situação "absurda".
Concluímos, portanto, que o maior título de que um cristão deve ser detentor é de servo, escravo de Cristo, e dizer como Paulo: "logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (Gl 2.20a)". Não há mais vontades, desejos, desígnios, status que nos sejam próprios. Há tão somente a cruz que nos impele a negarmos a nós mesmos , dia após dia (Mt 16.24-26). Não há privilégio maior do que servir a um Senhor que é bom, justo e misericordioso.
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