(Texto do Bispo Walter McAlister)
O que estamos fazendo quando oramos? Essa é uma pergunta que me assombra há anos. Escrevi o livro O Pai Nossojustamente para abordar essa questão, pois acredito que na oração que Cristo nos ensinou há chaves que abrem portas do nosso entendimento a respeito de Deus e dos seus propósitos para conosco. Mas este post não é sobre essa oração específica. É sobre as orações que já ouvi e fiz, tanto publicamente quanto na solitude do meu quarto.
O que estamos fazendo quando oramos? Essa é uma pergunta que me assombra há anos. Escrevi o livro O Pai Nossojustamente para abordar essa questão, pois acredito que na oração que Cristo nos ensinou há chaves que abrem portas do nosso entendimento a respeito de Deus e dos seus propósitos para conosco. Mas este post não é sobre essa oração específica. É sobre as orações que já ouvi e fiz, tanto publicamente quanto na solitude do meu quarto.
Embora não haja mal em se orar em público, muito pelo contrário, Jesus falou do perigo que há em determinadas orações públicas.
A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.” Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado. (Lc 18.9-14)
A tônica dessa passagem é simples: há orações que Deus não atende. Ele ouve todas, em Sua onisciência, mas isso não significa que aquele que ora receberá o que pediu. Não é toda e qualquer prece feita “em o nome de Jesus” que Deus aceita ou responde. Algumas chegam a ser óbvias. Nas palavras do Senhor vemos claramente a arrogância do fariseu. É fácil crucificá-lo, o difícil é olhar para os nossos erros. E a nossa arrogância? E a minha? Aí pega. Pois nem sempre a vejo, tampouco meus erros. E que orações descabidas são essas? Peguemos alguns exemplos.
Existe a oração dissimulada: “Senhor, Tu sabes que a única coisa que quero na vida é fazer a Tua vontade. Aliás, nem vontade própria tenho mais.” Deus não se impressiona com isso, pois é claro que essas palavras configuram uma mentira, mas que é bonito é. Pior é que há aqueles que de fato acreditam na própria mentira.
Existe a oração pregação: “Senhor, como já falaste, por meio da Tua Palavra, em Mateus seis, versículos quatro a seis, na versão Almeida Corrigida e Revisada, mas não atualizada, sei que… primeiro… segundo… terceiro… e, portanto…”. São muitas as pessoas que usam o ensejo de uma oração pública para extravasar a sua ambição de serem pregadoras. Já vi isso inúmeras vezes. É maçante ouvir uma oração do tipo, pois fica óbvio que não é dirigida a Deus, mas aos homens. Melhor seria nem ter “orado”.
Existe a oração anúncio: “Senhor, abençoa a reunião de milagres que vamos realizar quinta-feira que vem, com entrada franca e lanchonete aberta após o culto, que começará às sete e meia em ponto.” Dispensa comentários.
Há ainda a oração feiticeira. São orações invocatórias que simplesmente informam Deus exatamente sobre como deve respondê-las: “Senhor, ajuda o Zé a descer do muro. Afinal, já namora a Maria faz sete anos. Tu sabes que os dois devem se casar. Tu sabes que o relógio biológico dela está correndo e que ele já poderia ter proposto o casamento. Mas, Deus e Pai, ele está protelando. Até quando, Senhor? Até quando? Mude o coração do Zé para assumir logo esse compromisso. Todos sabemos que os dois foram feitos um para o outro.” E por aí vai. Já ouviu orações assim? Eu já. Cansei de ouvir pessoas instruírem Deus e ainda tentarem manipular as circunstâncias por meio de uma oração “poderosa”.
Existe a oração presunçosa. Ela se assemelha muito à oração feiticeira. Mas em vez de dizer ao Senhor o que fazer, carrega em si mais a presunção de saber qual é a vontade de Deus: “Senhor, sei que Tu só queres que eu seja feliz e tenha vida em abundância. Sei que este sofrimento é contra a Tua vontade e que o Diabo é quem está me fazendo mal. Sei que Tu não queres isto.” Sim, a oração presunçosa é encharcada de certezas e citações bíblicas fora de contexto.
Existe a oração de poder pessoal, fruto da doutrina da Confissão Positiva: “Senhor, eu tomo posse agora. Eu declaro. Eu determino. Eu afirmo.” Essa você já entendeu, tenho certeza.
Ainda existe a oração fofoca: “Senhor, toca no coração do marido da Hermínia. Tu sabes que ele anda longe dos teus caminhos. Sabemos, Senhor, que ele está em pecado. Já houve quem o visse na praça falando com a sirigaita da farmácia, cujo nome nem convém mencionar, Senhor. Ô, misericórdia! Ô, mistério! E sabemos como ele está levando a nossa querida irmã a exagerar no seu licor de fim de tarde. É uma irmã querida, mas que está caindo em pecado também. Ajuda, Pai. Sabemos que a Tua igreja não merece mais um escândalo desses – escândalo como o do pastor auxiliar de três anos atrás, mas que a maioria nem sabe bem o que aconteceu e que o levou a repentinamente pedir afastamento e a se mudar para o Acre.” Essa geralmente é reservada para reuniões especiais entre pessoas que estão mais “em comunhão”.
Deus não responde essas orações. Abomina algumas delas. E há muitas outras formas erradas de orar, citei apenas essas para mostrar que, como intercessores, podemos ser absurdamente carnais e acabar pecando contra o Senhor.
Para orar, temos que partir de um pressuposto fundamental: Deus sabe tudo. Ele sabe quantos fios de cabelo temos na cabeça. Ele sabe quantos grãos de areia há no mundo. Ele não precisa que nós o lembremos do que quer que seja. Por outro lado, Paulo disse: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.” (Fl 4.6). Então, podemos pedir. Podemos, de coração aberto, pedir.
Por outro lado, Tiago nos avisou, quando disse:
De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. (Tg 4.1-8)
O que as orações absurdas têm em comum? Voltemos à oração do fariseu para achar a resposta: orgulho.
Tiago nos admoesta a orar com modéstia, com humildade. Quando chego perante Deus, tenho que fazê-lo com temor. Ele sabe tudo, até as palavras que vão sair da minha boca. Sou absolutamente transparente para o Senhor. Só esse fato já me desmonta, me quebranta. Não há como enganar Deus. Não há lugar para pretensão. Não há lugar para manipulação. Ao orar, estou falando com quem me criou, quem conhece o meu ser, por dentro e por fora. E isso… ah, isso muda tudo.
Na paz,
+W
Nenhum comentário:
Postar um comentário